Estava caminhando pela rua, naquele dia cinzento, toda alegre e
até um pouco distraída, quando algo bem estranho me chamou a atenção: uma fila
enorme, com pessoas a perder de vista.
Fiquei
curiosa, claro. Meu instinto feminino estava alarmado. Aquela fila, ali, tão
grande, deveria ser por algum motivo dos bons. Como estava com tempo livre,
aliás, não tinha nada mesmo para fazer, me entreguei à tentação e entrei.
O
mais inquietante (e excitante) é que ninguém por perto sabia do que se tratava.
"Parece que tem um milionário distribuindo presentes", sugeriu o
senhor à minha frente. Fiquei esperançosa. Valeria à pena então.
O
tempo foi passando, e a fila não andava. A galera já estava ficando impaciente.
"Um absurdo!", "Que descaso com o povo", "Vou procurar
o PROCON!", bradavam os mais exaltados. Como não sabia ainda do que se
tratava, fiquei na minha.
De
repente, sei lá de onde, surgiu uma informação (ou seria mero boato?) de que a
fila, na verdade, era para a inauguração grátis de um novo restaurante. Negócio
chique. Mas a fila não andava, e eu estava cada vez mais confusa. E excitada.
Que mistério!
Os
minutos viraram horas. O dia cinzento virou noite fria. A excitação deu lugar
ao tédio. Nesse tempo, a fila já ganhara outros vários significados possíveis
de sua existência: cestas básicas, ingressos para a final do campeonato,
autógrafos de um cantor famoso e até entrega de chaves de casas doadas pelo
governo. Ou seja, ainda valia à pena o sacrifício. Era alguma coisa boa que nos
aguardava. Na verdade, que nós aguardávamos.
E assim foi indo: não indo.
Lembram
da noite fria? Então, ela também foi embora. Deu lugar a um sol tímido, que
nasceu lentamente. Tão lentamente que demorei a perceber: tudo não passou de um
sonho. Aquela fila não me levava a lugar nenhum. Eu não sabia se gostava dela,
não conhecia o que ela poderia me proporcionar de verdade. Mas todo mundo
entrou, e fui junto. Todo mundo foi junto porque entrou. Na expectativa. Na ignorância.
Daquele
dia em diante, percebi que seguir uma tendência só por seguir, sem ter vontade
disso, não me leva a lugar algum.
Peguei
minha pochete, vesti meu conjunto moletom e fui caminhar por aí, ouvindo Molejo.
Feliz e com destino certo: aonde eu quisesse ir, como eu quisesse andar.
Adorei o texto! :)
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