sexta-feira, 13 de julho de 2012

Moletom


Estava caminhando pela rua, naquele dia cinzento, toda alegre e até um pouco distraída, quando algo bem estranho me chamou a atenção: uma fila enorme, com pessoas a perder de vista.

Fiquei curiosa, claro. Meu instinto feminino estava alarmado. Aquela fila, ali, tão grande, deveria ser por algum motivo dos bons. Como estava com tempo livre, aliás, não tinha nada mesmo para fazer, me entreguei à tentação e entrei.

O mais inquietante (e excitante) é que ninguém por perto sabia do que se tratava. "Parece que tem um milionário distribuindo presentes", sugeriu o senhor à minha frente. Fiquei esperançosa. Valeria à pena então.

O tempo foi passando, e a fila não andava. A galera já estava ficando impaciente. "Um absurdo!", "Que descaso com o povo", "Vou procurar o PROCON!", bradavam os mais exaltados. Como não sabia ainda do que se tratava, fiquei na minha.

De repente, sei lá de onde, surgiu uma informação (ou seria mero boato?) de que a fila, na verdade, era para a inauguração grátis de um novo restaurante. Negócio chique. Mas a fila não andava, e eu estava cada vez mais confusa. E excitada. Que mistério!

Os minutos viraram horas. O dia cinzento virou noite fria. A excitação deu lugar ao tédio. Nesse tempo, a fila já ganhara outros vários significados possíveis de sua existência: cestas básicas, ingressos para a final do campeonato, autógrafos de um cantor famoso e até entrega de chaves de casas doadas pelo governo. Ou seja, ainda valia à pena o sacrifício. Era alguma coisa boa que nos aguardava. Na verdade, que nós aguardávamos. 

E assim foi indo: não indo. 

Lembram da noite fria? Então, ela também foi embora. Deu lugar a um sol tímido, que nasceu lentamente. Tão lentamente que demorei a perceber: tudo não passou de um sonho. Aquela fila não me levava a lugar nenhum. Eu não sabia se gostava dela, não conhecia o que ela poderia me proporcionar de verdade. Mas todo mundo entrou, e fui junto. Todo mundo foi junto porque entrou. Na expectativa. Na ignorância.

Daquele dia em diante, percebi que seguir uma tendência só por seguir, sem ter vontade disso, não me leva a lugar algum.

Peguei minha pochete, vesti meu conjunto moletom e fui caminhar por aí, ouvindo Molejo. Feliz e com destino certo: aonde eu quisesse ir, como eu quisesse andar.


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