quinta-feira, 26 de abril de 2012

Tem Alguém (Normal) Aí?

Prezado Dr House

Estou escrevendo essa carta de forma desesperada. Preciso me comunicar com alguém, mas não consigo. Todo mundo à minha volta enlouqueceu e você é a minha última esperança de tentar entender tudo o que tem acontecido.

Não compreendo o comportamento dessas pessoas. Elas agora, quando saem para confraternizar e encontrar amigos, nada falam, só digitam. Ficam antenadas diante daqueles malditos celulares. Que raiva daqueles aparelhinhos! Não há conversa. Agora só mandam “inbox”, seja lá o que isso significa.

Tudo é exagerado. Tudo acontece muito rápido e gera milhões de repetições o dia inteiro, a semana inteira, o ano inteiro, a vida inteira. Meu Deus! Agora me bateu um desespero ainda maior. Será que esse comportamento durará uma vida? É muita loucura por muito tempo. Não pode ser! Não vou aguentar!

Imagine só, doutor, que uma frase despretensiosa, sem nexo nenhum, pode significar tanta coisa pra essa gente. Experimente falar “para nossa alegria, Luiza está no Canadá”. É como se fosse um código. Eles vão à loucura. Riem, ficam histéricos e disseminam mais e mais. Repetidas vezes, o tempo todo. Eu não entendo. Eu piro!

Isso sem falar no exagero de exposição dessa galera. Está todo mundo muito mais exposto. E o pior: eles gostam disso. Eles mesmos se expõem. Virou notícia saber que aquela dançarina siliconada esteve na praia se bronzeando numa terça-feira à tarde. Pior: virou notícia saber o que o seu colega de trabalho comeu no café da manhã! Essa gente quer gritar para o mundo que está vivendo a vida intensamente. Mas será que todo mundo quer saber? Eu não quero! Aliás, eu nem acredito nisso. Esse pessoal quer mostrar muito por fora porque, por dentro, sabe que pouco tem. É uma autoafirmação vazia. Tenho certeza. Mas e daí? Está todo mundo fazendo isso! Acho que tenho que fazer também então, certo? Ou não? Será que só eu sou normal por aqui? Que vontade de berrar!

Se bem que já nem sei mais o que é ser normal. Tem tanta gente no mundo, tantas culturas diferentes, tantas bizarrices acontecendo todos os dias, que eu de fato me sinto como um “cego em tiroteio”. Dizem que ser diferente é ser normal. Não sei dizer. Me sinto diferente, mas não sei se sou ou estou normal. Só sei que estou “perdidinho da silva” e preciso de ajuda. Me salve!

Estou cada vez mais sem rumo. Me sinto sozinho. Me sinto indiferente e ao mesmo tempo diminuído. Repito todos os dias (e até nessa carta): será que só eu sou normal? Ou será que o louco sou eu? Se bem que estou escrevendo uma carta para um personagem de TV. Personagens não existem. Acho que minha pergunta está respondida.

Vou perguntar algo diferente então: eu tenho cura, doutor?

                          
                      Com sincero afeto,

                                      Chapeleiro Maluco.




                             

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O Importante é Competir?


História nº 1

Pedrinho: Pai!!

Pai: Diga, meu filho.

Pedrinho: Quero um XMAX! Me dá um?

Pai: XMAX?! Nunca ouvi falar. O que é isso?

Pedrinho: Poxa, pai, deixa de ser velho. É o vídeo game mais maneiro de todos os tempos!

Pai: Ah...

Pedrinho: Ah?! E aí, vai me dar um?

Pai: Vou sim, no seu aniversário.

Pedrinho: Caramba, pai, mas meu aniversário é em outubro só! Falta muito!!

Pai: Paciência ué. Por que eu te daria um vídeo game agora?

Pedrinho: Porque o Luquinhas lá da escola tem um, e eu quero ter também! Isso é muito injusto!

(mãe chega)

Mãe: Olá, rapazes. Como estão as coisas?

Pedrinho: Uma droga! O papai é um chato. Ele não me ama! (chorando copiosamente)      

Pai: Como é que é?! Só porque vou te dar o tal do X sei lá o quê no seu aniversário e não agora?

Mãe: Não chora, Pedrinho. Conta pra mamãe o que está havendo.

Pedrinho: Eu queria tanto ter um XMAX logo! O Luquinhas ganhou um, e eu quero ter também!

Mãe: Calma, filhinho. A mamãe vai te dar um hoje. Vamos lá pra loja comprar.

Pai: O quê?!

Mãe: Você não percebe? Isso é bullying! Quer ver o seu filho traumatizado?

Pai: Acho que isso tem outro nome. Você é quem sabe.

 (uma semana depois)

Mãe: E aí, filho, está curtindo muito o seu XMAX?

Pedrinho: XMAX? Já joguei fora.

Mãe: Jogou fora? Como assim?

Pedrinho: É, mãe. Primeiro o Luquinhas jogou o dele fora. Ele disse que o vídeo game era chato e resolveu jogar no lixo. Agora ele está querendo colecionar selos. Também joguei no lixo o vídeo game. Quero selos! O Luquinhas já tem um monte. Não quero ser passado pra trás.

Mãe: (perplexa) Olha quem fala. Quem foi passada pra trás fui eu. Seu pai ganhou.

  ***   ***   ***

História nº 2


Na Cúpula Anual dos Estados-Membros da Federação:


Rio de Janeiro: Fala aê, galera! Como vocês estão?

São Paulo: Estou indo, devagar e sempre.

Minas Gerais: Devagar? Uai, você não é o maior dos estados? Agiliza isso aí então.

SP: Isso é verdade. Modéstia à parte.

RJ: Modéstia ou moléstia? Ah, que balela! De que adianta ser o maior, mas não ser o melhor? Vai ganhar dinheiro e comemorar no Tietê respirando poeira? Que delícia.

MG: Ih, agora pegou pesado.

RJ: Peguei nada. Esse pessoal aí que gosta de se proclamar o maioral e não tem a capacidade de olhar pro próprio umbigo. Eu hein!

SP: Calma aí, meu. Eu só estou dizendo que sou o maior mesmo. Os números não mentem.

RJ: Quer falar de números? Então tá. Quantas praias você tem?

MG: Opa! Não toca nesse trem aí que eu não gosto.

RJ: Desculpa, Minas. Nada pessoal.

SP: E quem disse que é obrigatório ter praia para ser bom? Que mania chata de achar que areia e mar sujo trazem felicidade!

RJ: Cara, você só tá falando isso porque não tem. Recalque puro.

MG: Eu também não tenho, mas compenso de outras formas. Sou um berço cultural pro país! Aqui nasceram ícones como Pelé, Drummond e o Alexandre Pires.

RJ: Nossa. Como estou impressionado. O Alexandre Pires é mineiro? Caramba. (bocejo).

SP: É isso aí! Aqui também tem muita cultura. Temos até o Museu da Língua Portuguesa!

RJ: De que adianta? Vocês ainda mal sabem pronunciar “Corinthians” direito. Isso sem falar em “os mano” e “as mina”. Vergonhoso!

SP: Ah vá! Você está tirando uma com a minha cara? Deixa de ser mala! Assume que você é um nanico com meia dúzia de praias imundas e que gosta de tirar onda.

MG: Sem falar na violência né? Deve ser duro atravessar a rua com tanta bala perdida.

RJ: Deve ser duro ser insignificante. Tanta pose pra nada. A final da Copa vai ser aqui. As Olimpíadas vão ser aqui. Eu sou pop! Chupem essa manga!

SP: Não queria mesmo.

MG: Eu também não. Esse trem aí só dá confusão.

RJ: Que trem? Tão construindo o novo Metrô. Bem melhor!

MG: Deixa pra lá.

SP: Bem, pessoal, como sou muito importante, preciso ir. Tenho mais o que fazer. Se eu parar, o país quebra. Muito diferente de um certo alguém aí que para porque traficante mandou!

RJ: Isso aí. Não para de trabalhar não. Alguém precisa fazer isso mesmo. Vou ali pegar uma onda pra conservar minha beleza. É disso que os gringos gostam. Ou melhor: as gringas...

MG: Bem, já que todo mundo tá indo, também vou. Estou morrendo de fome. Comer um pãozinho de queijo pra resolver isso aí.

RJ: Quer sal? Tenho um monte.

Distrito Federal: Alto lá! Aonde os três pensam que estão indo?

RJ: Ahn..p-p-pra lugar nenhum. Eu acho.

SP: Isso. Lugar nenhum. Concordo.

DF: E você, Minas? Vai ficar quietinho aí no seu canto? Responda!

MG: Estou aqui uai! (ai que fome!)

DF: Muito bem. Parem com essa palhaçada agora! Não tem ninguém melhor que ninguém aqui. Tem quem manda. E quem manda sou eu. Assunto encerrado dilma vez por todas. Ponto final.

***   ***   ***

Essas pequenas e fictícias histórias mostram, mesmo que metaforicamente, como o ser humano é competitivo. Até que ponto precisamos ser os melhores? Não basta sermos bons ou pelo menos nos empenharmos ao máximo para isso? Não dá para todo mundo coexistir num espaço em que cada um seja bom sem invejar o próximo? Acho que dá. O importante não é competir. Não é ser o melhor. O importante é coexistir. A vida é um quebra-cabeças em que cada um faz a sua parte para encaixar. Essa é a moral das histórias.

Fica aqui a dica então do melhor blog de crônicas da internet.




domingo, 15 de abril de 2012

Duas Caras

Gotham City sempre foi conhecida por ser uma cidade violenta. Uma cidade sombria, com alto nível de marginalidade, sem escrúpulos, muitos vilões e um cavaleiro, na figura de seu guardião.

Porém, numa noite não menos sombria que as demais, uma mosca de ouvidos afiados pousou num copo de cerveja, numa discreta mesa de bar, em que dois velhos amigos conversavam. Os dois estavam de capa. Um de capa preta, dono do tal copo, e o outro, trajando uma chamativa capa amarela, só no cafezinho. Figurinos diferentes, que lhe chamaram a atenção. Imediatamente a mosca se pôs a colocar as antenas ligadas.

Vamos acompanhar:


Batman: Robin, meu amigo, precisamos ter uma séria conversa.

Robin: Ora, Batman, para isso que estou aqui. Assim que recebi seu chamado vim o mais rápido que pude. O que houve?

Batman: Bem, tentarei ser direto. Os tempos estão difíceis. Estou em crise.

Robin: Crise? Explique melhor. O que posso fazer pra ajudar?

Batman: Por enquanto, nada, mas em breve poderá fazer muito. Está sabendo que as eleições de Gotham City estão se aproximando, certo?

Robin: Sim, e o que temos com isso?

B: Esse é o meu ponto. Estou em crise de identidade profissional. Não aguento mais ser o guardião dessa cidade.

R: Não?! Pensei que gostasse disso.

B: Não mesmo. Estou pensando em me aposentar para entrar na política e concorrer já nessas eleições. O que me diz?

R: Bem..hmm...eu não sei muito o que dizer. Sei lá, nunca pensei nisso. De onde você tirou essa ideia?

B: Você é meu parceiro há tantos anos, não tenho como esconder. A verdade é que recebi um convite que me deixou balançado.

R: Que tipo de convite? De quem?

B: Bem, fui chamado pelo Coringa, para encabeçar a chapa dele. Ele será o vice. Parece que o Pinguim e a Mulher-Gato vêm com tudo na oposição.

R: Macacos me mordam, Batmam! O Coringa? Ficou louco?

B: Louco?! Por que razão? Louco é ele, com aquela língua mole e babona (riso alto)! Falando sério, ele certamente trará muitos votos para nós.

R: Nós? Que “nós”? Agora “somos” do time dele? Não estou achando nenhuma graça. É pegadinha?

B: Claro que não é pegadinha, Robin. Ainda não sei se vou entrar nessa. Só recebi o convite, mas não tenho certeza.

R: Ufa! Pelo menos está em dúvida de se aliar a esse crápula.

B: Acorda pra vida, Robin! Minha dúvida não tem nada a ver com isso. Tenho medo de entrar nessa e perder a eleição. Odeio perder!

R: Juro que não estou entendendo. O Coringa representa aquilo que sempre combatemos: crime, corrupção, violência, enfim, acho que estou sonhando.

B: Exatamente. Acorda! Você está desorientado. Quero ganhar. Quero mais poder. Ele também quer. Isso é o que importa.

R: Mas de que maneira ele quer ganhar? Isso não interessa? E as suas ideias de paz? E os seus princípios?

B: Claro que agora não interessa, deixe de ser romântico. Paz não existe. Ideias, na prática, não existem. Poder sim.

R: Romântico? Eu?! E se autodenominar “Cavaleiro das Trevas” seria o que?

B: Seria, aliás, melhor dizendo, será parte do passado. Na verdade, é marketing. Acho que vou manter. Boa. Gostei.

R: Mas, Batman, e o povo todo que você tanto ajudou, lutando por eles? O que eles vão pensar de você?

B: Ah, qual é, Robin?! O povo vai pensar que o Coringa tomou jeito ué. Eu tenho credibilidade.

R: Mas ele tomou?

B: Não sei, não me interessa, já disse.

R: Então não te interessa se é verdade ou não o que o povo pensa?

B: Os tempos são outros, Robin. Não há mais espaço pra discussão ideológica. Deixa isso lá pro Super-Homem, que ainda tem aquela capa vermelha dele. O Coringa já tem uns esquemas. Precisamos de poder.

R: Esquemas? Mas quem tem o poder pra colocar vocês lá não é o povo?

B: Aonde você quer chegar? Sim, em tese são eles, já que são eles que votam.

R: E você não quer saber o que eles pensam? Estou confuso.

B: Robin, relaxa, respira e reflita um pouco. Eu sou bem apresentável e sempre protegi a cidade. O Coringa, por outro lado, apesar de ser meio maluquinho com aquela língua, dinamites e tal, tem o voto de toda a gente que me odeia e sabe como lidar com os esquemas. É a mistura perfeita! Quem se importa com nossas ideias? Robin, deixe de ser filosófico. E aí? Quer ser ou não meu assessor?

R: Preciso pensar.

B: Pensar no que? Está fazendo charme?

R: Não tem nada de charme. Sempre fui leal a você. Mas preciso pensar se a minha lealdade era restrita a você ou aos seus princípios e valores. Será que conseguirei colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo todas as noites? Isso, pra mim, faz toda a diferença.

B: Está bem, Robin. Pense e me diga. Só me responda mais uma pergunta.

Robin: Pode falar.

Batman: Você votaria em mim?

E, assim, o homem de capa amarela se levantou em silêncio, pegou sua moto e se pôs a andar solitário, triste e sem rumo, mas prestes a ter um sono tranquilo, como em todas as outras noites. 

Como sabemos disso? A mosca foi com ele, é claro. Não queria ser parada pela blitz da Lei Seca junto do homem da capa preta. Mosca esperta.


                                            
                                  Desenho: Daniel Mizrahi Neustadt Carvalho, em 16/04/2012.

domingo, 8 de abril de 2012

E se...

E se não tivesse uma pedra no meio do caminho?

O tempo passa. O tempo voa. A vida é sentida num piscar de olhos. Com tanta informação para ser digerida todos os dias, nossa percepção acaba ficando menos aguçada, menos seletiva. O filtro interno que possuímos é cada vez mais largo. Será que estamos nos atendo pouco ao que realmente importa?

E se letras não formassem palavras?

O conhecimento geral normalmente fascina e fornece poder, mas não é ele quem move o mundo. Não, senhor. O que difere um bom arroz de um arroz desprezível é o tempero. Não basta saber a receita, devemos sempre estar atentos às pitadas de sabor que fazem a diferença. Pitadas essas que não se limitam a um caso isolado. São elas, na realidade, que geram consequências para um amontoado de gente. É o tradicional efeito borboleta na sua forma metafórica de ser. Ou efeito dominó, como preferir.

E se viver em sociedade fosse o oposto de ser sozinho?

Na condição de advogado, permitam-me uma pequena ultra mini-aula jurídica. Será rápida, eu prometo. Agradeço a permissão. Sigo em frente: no direito brasileiro, para fins de critério, a Justiça, via de regra, analisa os efeitos de um ato e sua causalidade direta para aquele resultado. É um critério para não virar zorra. Aliás, para não parecer que não é uma zorra, vamos combinar aqui entre nós. Enfim, sem mais lero-lero, é algo objetivo, nesse campo de atuação. Só que a vida, os sentimentos, os momentos e os acontecimentos não são, nem de perto, passíveis de objetividade. Mais subjetivo do que isso só dois disso. Há ocasiões em que um pequeno detalhe acaba desencadeando tudo, que vem a fazer diferença dali pra frente. É o tempero mudando o sabor e o rumo de cada um.

E se Hitler não tivesse nascido?

É bem verdade que um dos grandes debates envolvendo religiosos e céticos diz respeito à dicotomia livre arbítrio x determinismo. “Nós temos o nosso poder de escolha e, dentro delas, o destino está traçado”, dizem os religiosos. “Como está tudo determinado se podemos escolher nossos caminhos?”, indagam os céticos. E assim a coisa (não) anda. O que importa, independentemente disso, é que pequenos fatores, minúsculos restos de algo grandioso, sempre fazem a diferença no somatório final. Basta olharmos pra trás e nos lembrarmos daquele segundo, daquele instante em que tudo mudou para sempre. Todos nós já passamos por isso e vamos continuar passando. Viver é, antes de tudo, se reinventar. Buscamos sempre a renovação. Ou deveríamos buscar: novos ares, nova casa, nova profissão, casar, separar, ter filhos, viajar e por aí vai. O novo é bom. O novo atrai.

E se não houvesse muro para lamentar?

Recentemente pude assistir ao reflexivo filme “Margin Call”, que trata, basicamente, das 24 horas anteriores ao estouro da última grande crise financeira mundial, em setembro de 2008. Sem entrar em detalhes para não tirar o prazer de quem ainda não o assistiu, a obra nos traz momentos de angústia, aflição, incerteza e, principalmente, medo pelo que ainda vai acontecer. Ao longo do filme, vamos vendo a cadeia de acontecimentos e tomadas de decisões da alta cúpula da companhia prestes a ruir. Percebe-se, claramente, que, por mais inevitável que tudo acontecesse, a forma como se deu o crash podia ser bem diferente. A cada detalhe, a cada negligência, foi ficando mais claro que, por orgulho e ganância, o destino de milhões de pessoas foi traçado. Foram para a lama, mas carregaram muita gente com eles. E se não fosse assim?

E se os olhos dos homens não tivessem crescido?

Os detalhes também estão presentes nos acontecimentos trágicos, históricos, instantâneos.  Como acreditar que a rebimboca da parafuseta de um avião cause mortes e mude a vida de tantos? E aquela decisão despretensiosa de ir por um caminho e, minutos depois, se acidentar para partir pra sempre? Como medir isso? Como dosar ou até mesmo evitar esse tipo de coisa? Não tem como. Não há nada por acaso, mas é o acaso que dita as regras do jogo. Os dados estão lançados ao jogo, diria Einstein.

E se Senna tivesse freado?

Também não é só de “se’s” ruins que se constrói uma vida definida nos detalhes. Há um bordão de rádio nas transmissões de futebol que sintetiza bem o que quero dizer. Quando sai um gol (momento máximo do futebol) lá vem o narrador: “E aí, fulano, qual é o detalhe? O detalhe é o que vale!”. E é mesmo. Nos vemos apegados a tanta informação, tantos mecanismos para viver, que não paramos nenhum segundo sequer para pensar como tudo se iniciou. Projetar como seria a vida se A, B ou C não tivessem as ideias que de fato vieram a ter. O que seria do mundo sem a maçã de Adão e Eva? Ou então, mais radical ainda, o que seria do mundo sem a maçã de Steve Jobs? Esse tipo de projeção, apesar de divertida e de imaginação fértil, é mais séria do que imaginamos.

E se não inventassem a roda?

O que esse tipo de efeito borboleta nos leva a refletir tem como resultado pensar quão efêmera, frágil e instável é a nossa vida. Não apenas a minha ou a sua. De todos nós, como um todo. A decisão de um único homem, em outro continente, nesse exato momento, pode mudar o rumo de tudo para sempre. Quem vai saber? O momento da fomentação das ideias para a tomada de decisão é o tempero do arroz. Se a comida causará indigestão ou se trará saborosas consequências aí é outra história. O fato é que a pitada faz a diferença.

E se Marthin não tivesse sonhado?

No fim das contas, nos deparamos com os fatos e nos lamentamos ou nos ludibriamos em virtude de uma situação condicional (mais conhecida como “se isso” ou “se aquilo”) para que acabemos por nos conformar ou inconformar com algo que realmente nos tocou. São encontros e desencontros, diretos, indiretos ou até mesmo distantes, que nos fazem mudar o rumo de nossas vidas. São oportunidades de reinventar a roda ou de sonhar acordado para produzir em prol do mundo. É o segundo que antecede o beijo, para o alcance do êxtase. É viver e aprender. A todo tempo, em cada milésimo de segundo.

Se a vida não fosse feita de detalhes mais fácil seria de entendê-la.
E mais chata de vivê-la.
E se...


“E se não tivesse uma pedra no meio do caminho?
E se letras não formassem palavras?
E se viver em sociedade fosse o oposto de ser sozinho?

E se Hitler não tivesse nascido?
E se não houvesse muro para lamentar?
E se os olhos dos homens não tivessem crescido?

E se Senna tivesse freado?
E se não inventassem a roda?
E se Marthin não tivesse sonhado?

Se a vida não fosse feita de detalhes mais fácil seria de entendê-la.
E mais chata de vivê-la.

E se...”

(Rodrigo Salomão – 08/04/2012)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Além da Melodia

Bem-vindo à selva.

“Pense”. “Fale”. “Compre”. “Beba”. “Leia”. “Vote”. “Não se esqueça”.

A vida é uma cachoeira. Nós somos um no rio. E novamente um após a queda.

Espiões psíquicos da China tentam roubar seus estímulos mentais. Garotinhas da Suécia sonham com citações do cinema.

 Não precisamos de controle mental. Todos são somente tijolos na parede.

Por que todos estão tão sérios? Agindo tão misteriosamente? Você usa seus óculos escuros e sapatos tão altos que não consegue nem se divertir.

Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir. Tenho muito pra contar. Dizer que aprendi.

Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades.

Vivemos esperando o dia em que seremos melhores. Melhores no amor. Melhores na dor. Melhores em tudo.

Não há nada que você possa fazer que não possa ser feito. Tudo o que você precisa é de amor.

Há caminhos para chegar lá. Se você se importa o suficiente com a vida crie um pequeno espaço. Crie um lugar melhor.

É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque, se você parar para pensar, na verdade não há.

Se não faz sentido, discorde comigo. Não é nada demais.

Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único.

Eu imploro para sonhar e discordar das mentiras ocas. Esse é o amanhecer do resto de nossas vidas.

Prefiro ser essa metamorfose ambulante. Do que ter aquela velha opinião
formada sobre tudo.

Não importa quanto dinheiro você tenha ou os amigos que tenha. Você irá precisar de alguém, para ficar do seu lado.

Erga o olhar com esperança, não pela mira de uma arma. Cante uma canção para o amor e não para a batalha.

Um só amor, um só coração. Vamos ficar juntos e nos sentiremos bem.

Nós somos o mundo. Nós somos as crianças. Nós somos aqueles que criamos um dia mais brilhante.

E a gente canta. E a gente dança. E a gente não se cansa de ser criança.

Eu só quero é ser feliz.

Natural que seja assim. Tanto pra você quanto pra mim.




Fontes: Guns N’Roses, Pitty, System of a Down, Red Hot Chili Peppers, Pink Floyd, Jessie J, Tim Maia, Cazuza, Jota Quest, The Beatles, Michael Jackson, Legião Urbana, Capital Inicial, John Lennon, Green Day, Raul Seixas, Playing for Change, Shir Levy, Bob Marley, USA for Africa, Tribalistas, MC Cidinho e Doca e Lulu Santos, respectivamente.