sexta-feira, 26 de outubro de 2012

3 minutos

Três minutos.

A vida passa como um filme na mente. À volta não há ninguém acreditando. Não conseguem digerir. Mas alguém destoa. A moça ao lado está em choque. A ficha não caiu para ela. Berros, sussurros e desespero por toda a parte. Ninguém se controla. Menos a moça ao lado. Impassível. Imexível. Indestrutível. Perdida no caos.

Dois minutos.

O filme na mente já está acabano. É um curta-metragem, interrompido pelo destino. O ambiente está carregado de fé. Carregado de arrependimento, de indulgência. Deus passa a ser aclamado. Todos se unem numa energia, naquela força salvadora. Um só pensamento no objetivo. Mas a moça ao lado continua na dela, do seu modo frio e curioso. Ela está na fé também. Só pode estar. Reação apaixonante. Curiosa e atraente.

Um minuto.

A fantasia começa a tomar forma. Tudo parece ilusão. Realidade agora é uma mistura de imaginações perdidas com um pretérito futuro que jamais virá a ser presente. Um ciclo infinito. Louco. Incompreensível. A moça ao lado já nem me chama mais a atenção. A sua ausência se tornou costumeira nos últimos tempos. Tempos difíceis. Sons já não são mais absorvidos. A pressão não é mais mera impressão. Nada mais faz sentido.

Trinta segundos.

A moça ao lado começa a se mexer. Finalmente. Resolvo tocá-la. Um pouco de carinho a essa altura não custa nada. Dou-lhe um beijo e sou correspondido. Sinto ser nosso último suspiro de vida. Um sincero suspiro. Um suspiro do amor perfeito. Sorrio com a ironia do destino e reflito se afinal aquilo não seria um final feliz para a minha vida.

5 segundos.

Vida que está se deteriorando a cada milimétrico grão que cai na ampulheta ainda mais diminuta. Que foi sentenciada à morte, sumariamente, após a notícia cortante que recebemos. Que iniciou o seu fim há dois minutos e cinquenta e cinco segundos, quando o piloto, trêmulo, decretou: “senhoras e senhores, lamento informar. Uma de nossas asas se rompeu. Não há nada a fazer. Que Deus nos proteja”. Chorou como um neném. Um ato involuntariamente irônico para a hora do adeus. No início e no fim, o choro. E o ciclo da vida se fechou.

Zero.

É o fim. O cordão umbilical com o mundo se rompeu. Lá se foi a minha vida. Lá se foram os três minutos mais intensos dela. Outra ironia involuntária. Também chorei. Olho para o lado, e a moça, aquela mesma, está igualmente em prantos. Nossa dor se mistura. Já não era sem tempo.

O filme que passou na minha mente, então, teve um final feliz.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Ditados Errantes


Regras não existem para serem quebradas.

Ladrão que rouba ladrão também é ladrão. E ponto final para não roubarem o resto do meu raciocínio. Deus me livre de perdê-lo.

Quem acha algo e não devolve ao seu verdadeiro dono relaxou na honestidade, mas não caiu na boca do povo, que já está acostumado e faz o mesmo.

Nada mais natural. A voz do povo não é a voz de Deus.  É a voz do Congresso e só. Aquilo não é de Deus não. Deve ser a Sua vingança pelos ingratos da humanidade, isso sim.

Vingança, aliás, que não é prato de comida. Não se come frio, não se come quente. Não se come, afinal. Não alimenta corpo nem alma. Só suga a energia e conforta aquele que insiste em teimar num só foco.

Que atire a primeira pedra quem nunca teimou. Teimou por birra. Teimou por teimar. Teimou e ponto final. Atire a primeira pedra, vai.

Mesmo porque, pedra molhada tem de sobra. Furada, jamais. E nada muda.

Mas deveria mudar. Tudo deve mudar. Até time que está ganhando. Mexer é a vida em movimento. É se incomodar com a acomodação, com o errado, com o cruel e com o intolerante. É errar, caminhar, sem erro.

E que não mandem o incomodado se retirar. Está no canto dele, com o cérebro em ebulição, produzindo pensamento ou simplesmente sofrendo calado (ou não), o que dá no mesmo. Não mexa com o incomodado. Não mexa com quem está quieto. Isso não pode mudar nunca.

Pois toda regra tem sua exceção.