Ele
estava ali, sozinho naquele ônibus, já tarde da noite, rumo ao mais doce dos
destinos: sua casa. Cansado do dia inteiro de trabalho, não estava exatamente
com sono, por isso começou a divagar, até que lhe veio um estalo.
A
partir dali, surgiu uma sensação difícil de explicar, impossível de se descrever
em detalhes, mas que todos certamente um dia já vivenciaram. Um sufoco geral,
com requintes de crueldade e angústia, lhe tomava de tal forma que não via
escapatória, a não ser esperar pela dor iminente.
Naquele
ímpeto característico dos momentos de adrenalina, ele, quase que de forma
delirante, ligou para a sua noiva. Queria uma palavra amiga. Um conforto. Um
colo para se consolar.
Não
foi muito feliz na sua empreitada, é verdade. Sua noiva estava em um momento
mais angustiante ainda. A novela estava trágica, e suas lágrimas atravessavam o
fone do aparelho celular. Tempo perdido. Sufoco mantido. Aumentado. Dilatado,
em graus exponenciais. Ele tinha que soltar aquilo tudo para fora o quanto
antes.
Resolveu,
então, ouvir música. Colocou no shuffle de
seu iPod e deixou o destino ser o seu DJ. Triste opção. As canções “escolhidas”
não ajudaram em nada. Primeiro veio “Aerials”, do System of a Down. A música
até era boa, mas, quando começou, com “Life is a waterfall...”, foi
obrigado a mudar, por razões óbvias (para ele). Em seguida, bem eclético, surgiu
um animado Jorge Aragão entoando “Encontro das Águas”. Não era possível. O shuffle não estava ajudando em nada também. Decidiu desligar.
Naquele instante se encontrava, de fato, sem saída.
Telefonou mais uma vez para a sua noiva, na ansiedade de que, àquela altura, já
sem a concorrência da novela, fosse mais fácil exprimir seu martírio. O diálogo
que se segue foi mais ou menos assim:
- Oi, amor. Sou eu de novo. Terminou de ver o “oi oi oi”?
- Já acabou sim. Foi tão lindo!
- Que bom. Preciso urgentemente falar contigo. Estou em
apuros.
- Pois então fale, ué. O que é que está havendo?
- É que venho prendendo algo dentro de mim há algum
tempo e não sei o que fazer. Me dá uma ideia?
- Desembucha, homem!
- Ai, não sei. Ainda tenho um caminho tão longo a
percorrer. Minhas opções são mínimas. Acho que não vai adiantar eu falar
contigo agora.
- Se você não disser o que é, aí sim não terei como te
ajudar.
- Tudo bem, tudo bem. Meu desespero é que estou
morrendo de vontade de dar aquela mijada, mas ainda falta muito para eu chegar.
O que você faria na minha situação?
Do outro lado da linha não se ouvia mais qualquer voz.
Apenas ruídos. Ruídos de uma gargalhada sem fim. Ótima ajuda a dela. Desligou
sem falar mais nada.
Ao chegar, já explodindo por dentro, liberou tudo que
tinha para liberar no primeiro vaso que encontrou. Alívio sem fim. Sensação
indescritível, não é mesmo?
Que drama viveu nosso protagonista.
Hahahahaha
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