domingo, 17 de junho de 2012

Santo Remédio dos Diabos

Eu estava louco para me curar. Não suportava mais tudo que me acometia. Era uma dor intensa, e você não estava comigo mais para me ajudar. Aliás, você fazia parte da doença. Tinha certeza disso.

Fui ao clínico geral. Relutei pra ir, é verdade, mas fui. Não adiantou muito. Ele falou com toda propriedade de doutor que meu problema era “estresse por conta do trabalho”. Não quis acabar com a “certeza infalível” dele para lhe dizer que sou aposentado. Muito bem aposentado, a propósito. E, mesmo assim, você não me quis mais.

Já que no clínico geral de nada adiantou, busquei uma solução um pouco mais radical. Procurei um novo médico. Não um qualquer, mas um especialista na doença de que eu tinha certeza estar sofrendo. Fui atrás de um psiquiatra. Precisava de um remédio, isso sim. Algo que forçasse meu organismo a funcionar direito novamente.

Desde que você me deixou, Dorinha, minha vida nunca mais foi a mesma. Me lembro como se fosse ontem. O dia derradeiro, que nunca poderia ter existido. Mas existiu e permaneceu grudado na minha memória como nunca. Como nunca, precisava de um remédio. Estava lá, me preparando para dormir, quando você saiu da cama como se de um rio, pronta para ser levada a novos horizontes de oportunidades. Sua prontidão me afogou de imediato e agora me vejo nesse estado. Jamais me recuperei do baque. Como medicar isso?

A ida ao psiquiatra foi muito produtiva, no fim das contas. Ele me receitou um remédio dos bons. Disse que eu deveria sorver doses diárias e moderadas dele. Caso viesse a me exceder, ensinou, poderia até me ferir e me descontrolar até sair de mim. Deve ser porreta o danado!  Peguei a receita e saí radiante do consultório, esperançoso de que dias melhoras viriam.

Engano meu. O tal do remédio não tinha em lugar nenhum. Rodei a cidade, procurei em tudo o que é farmácia, até no camelô eu fui atrás. Na internet também não encontrei. O safado do psiquiatra me enganou, só pode. Vou denunciá-lo! Vou processá-lo! Isso não se faz! Estou precisando muito de uma ajuda, e ele era a boia de salvação. Só me fez sentir enganado. Que falta de respeito! Não vai ficar assim mesmo!

Opa, espera um pouco, Dorinha. Acho que encontrei o remédio. Já não era sem tempo. O rapaz que me vendeu disse que nem todo mundo tem mesmo, que, na verdade, é bem raro alguém tê-lo hoje em dia. Então era isso. Bem, não importa mais. Achei o que queria, vou ver se compro umas dez caixas. Foi tão difícil encontrar alguém que tivesse que preciso me garantir.

Acabo de tomar uma dose. Vou tomar moderadamente, mas preciso ter um mínimo para me manter bem e seguir a minha vida. Remédio bom esse tal de Orgulho, viu? É bem verdade que, em excesso, vira tarja preta. Sabe tudo o psiquiatra! Já estou me sentindo bem melhor.

Adeus, Dorinha. Fui. Vou nadar por aí. 


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