segunda-feira, 11 de junho de 2012

Iguais no Fim


Tamara queria apenas mamar no colo da mãe, mas ela morrera ao dar a luz.

Érica, desde pequena, tinha dificuldades para comer, apesar do esforço de seus pais em alterar isso. Batiam tudo no liquidificador, mas pouco mudava.

Tamara foi abandonada pelo pai, morou na rua até ser abrigada por um orfanato, mas nunca teve uma casa para chamar de sua.

Érica sempre morou no mesmo apartamento luxuoso em frente à praia, mas estava cansada da rotina do lugar de sempre e das pessoas de sempre.

Tamara se empenhou nos estudos e até completou o Ensino Médio num colégio da rede pública, mas não conseguia pagar pelo sonho de cursar a faculdade de Direito.

Érica estudava Direito numa universidade pública e só tirava 10, mas queria ser atriz. Seus pais não deixavam. Diziam que não dava dinheiro, que não era trabalho de verdade.

Tamara era faxineira numa loja de roupas. Ganhava o suficiente para pagar as contas. Ia para o trabalho todo dia de ônibus. Até fez amizade com o motorista.

Érica ganhou um carro, mas não sabia dirigir. Ganhou um motorista, então. Ela odiou. Faltava-lhe privacidade.

Tamara namorava um rapaz aqui, outro ali, mas não pensava em se casar. Não confiava em relacionamentos. O que seu pai fez lhe causou traumas profundos. E chorava.

Érica planejava se casar de véu e grinalda um dia, mas ainda não tinha encontrado o amor da sua vida. Sonhava intensamente com esse momento, que nunca vinha. E chorava.

Tamara vivia a sua vida, mas queria viver outra. Não podia. Faltava alguma coisa. Faltava oportunidade. Sobravam sonhos. Sobravam problemas.

Érica vivia a sua vida, mas queria viver outra. Não podia. Faltava alguma coisa. Faltava independência. Sobravam sonhos. Sobravam problemas.

Tamara se cansou daquilo. Tirou a própria vida, após se jogar nos trilhos do trem.

Érica se cansou daquilo. Tirou a própria vida, após se atirar da sacada de seu apartamento.

Tamara e Érica nunca se encontraram e não tinham nada em comum, exceto tudo.

As duas não conseguiram viver, e morreram. Desistiram de tentar.

Ou não.

Morreram, para enfim tentar viver.

No fim, são todos iguais. Todos buscam um recomeço.

Todos buscam a paz.

  

  

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