-- Nossa, como sou bonito.
-- O que você está falando? De onde tirou isso?
-- Não está vendo?
-- Não.
-- Olha direito. Viu?
-- Ainda não. Você está nu.
-- E daí? Nunca me viu assim?
-- Já, claro.
-- Então.
-- Então o quê?
-- Como não me acha bonito mesmo me vendo nu?
-- Você não sabe mesmo?
-- Não.
-- Deixa pra lá.
-- Agora eu quero saber.
-- Já disse para deixar pra lá.
-- Tudo bem. O que mais você não vê em mim?
-- Depende.
-- Depende?
-- É, depende. O que você vê em si?
-- Perguntei primeiro.
-- E eu respondi “depende”. Sua vez.
-- Você é insuportável. Está bem. Eu vejo em mim um
grande sujeito.
-- Grande como? Com 1,70 m? Que piada. Você não vê seu
umbigo, pelo visto.
-- Sou grande sim. De coração. De inteligência. De
humildade.
-- Por quê?
-- Porque sim.
-- Grande de coração, pequeno de respostas.
-- Você me conhece. Tenho um grande coração.
-- Eu te conheço? Não sei disso não.
-- Sabe não?
-- Não.
-- Por quê?
-- Porque não.
-- Adoro suas respostas. Muito claras.
-- Iguais às suas.
-- Que perda de tempo.
-- Também acho.
-- Então você se acha superior a mim?
-- Depende. Você se acha?
-- Não sei. Não te conheço muito bem.
-- Não? Deveria. Já se olhou no espelho?
-- É exatamente o que estou fazendo agora.
-- Nossa, como sou bonito.