quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Perigo

*Por Daniel Burman

            Não sou escritor. Tampouco gosto de ler livros. Leio as notícias que estão na capa dos principais sites e olhe lá. Gosto mesmo da página de esportes, mas até isso fico sem vontade de ler. Tudo começou em uma briga absurda entre duas torcidas em Santa Catarina e o que vimos no estádio saiu às ruas. Hoje estou triste, e talvez isso demore a passar.
            Comecei falando que não gosto de ler. Por isso, tinha que prestar atenção nas aulas na época de colégio; caso contrário, levaria cintadas em casa por causa das notas. Não que fosse uma maravilha, mas consegui ir longe. Gostava de todas as matérias, mas a aula de história em especial me fascinava. E, hoje, uma das minhas decepções veio de um professor dessa disciplina.
            Nas aulas de História, aprendi que alguns povos foram perseguidos no início da década de 1930, quando um partido ascendeu ao poder da Alemanha. Esse partido culpava esses povos, por tudo de ruim que acontecia no país. “Encontrar” os culpados era fácil. Eles tinham seu modo de se vestir, seus costumes...  Os que estavam no poder se utilizaram de uma propaganda poderosa para fazer com que o que falavam era a verdade absoluta. Aquele papo de que “uma mentira contada muitas vezes se torna uma verdade”. O povo alemão comprou a ideia. Preciso contar o resto?
            Hoje cedo, eu, dentista em meu consultório, entre um paciente e outro, estava em uma rede social quando surge a notícia de agressões gratuitas à torcedores de um clube. Torcedores que nada tem a ver com o que acontece nos tribunais ou nos campos. Torcedores que têm filhos pequenos, que são trabalhadores, CIDADÃOS.
            Para minha tristeza, após campanha intensa da mídia (inclusive incitando o ódio ao time que acabou favorecido nos tribunais), assim como nos anos 30/40, grande parcela da população aderiu ao pensamento e à fobia aos simpatizantes do time; afinal é muito mais simples “retweetar” um pensamento do que criar o seu.
            Como disse, nunca fui de escrever. Pedi esse espaço para tentar conscientizar alguém, ou alguéns. Essa história já ocorreu antes e acabou sendo o maior massacre da história. Não estou comparando os massacres, mas sim as agressões que estão ocorrendo no Brasil e as que ocorreram na Europa anos atrás. Creio que devemos aprender com erros.

            Ah, sobre o professor de história? Ele ridicularizou o time quando escrevi algo semelhante a esse texto no Facebook.


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sem Drama

— Está rindo de quê, mulher?

— De você, minha irmã. Não posso?

— Não. Que graça tem nisso?

— Toda. Estou quase me mijando nas calças.

— Eu podia ter morrido, sabia?

— É mesmo? Como?

— Batendo a cabeça, enrolando a língua, sei lá.

— Você tá maluca?

— É sério. Podia ter pego uma infecção também. Infecção é um perigo. Ou concussão cerebral, que está na moda.

— Vou repetir a pergunta: você está maluca?

— Se eu tivesse batido com a cabeça, poderia estar. É uma hipótese também.

— Quanto mais você fala, mais eu acho tudo isso engraçado.

— Quer dizer que eu podia estar morta agora ou então num hospital, até mesmo numa camisa de força, e você só tem risadas a oferecer?

— Por enquanto, sim. Foi só um escorregão, para de besteira. Caiu de bunda, eu ri e acabou.

— Bom saber a irmã que eu tenho. Quando for a sua vez, vou fazer o mesmo então.

— Duvido.

— Duvida, é?

— Sim, duvido. Você é neurótica, vai sair ligando pro 190 e pro Papa, por garantia...

— Muito engraçadinha. Não leva nada a sério, né? Ri de tudo, parece uma hiena. Nunca vi.

— Obrigada pelo elogio.

— Não foi um elogio, pensei até que você fosse me matar.

— Aí, tá vendo? Tudo é morte para você!

— Nem tudo, chocolate é vida.

— Pelo menos, isso.

— Se bem que pode causar câncer.

— Desisto.

— De quê? De mim? É verdade, oras. Tudo causa câncer hoje em dia, não tenho culpa.

— Ok, você venceu. Eu não vou rir disso.

— Por que não? Está passando mal? Quer que eu chame um médico?

— Passando mal só porque eu não ri de um papo sobre câncer? Eu tenho limites, vai. Você que é um caso perdido.

— Para de falar assim de mim, irmã.

— Você que tem que parar de ser tão paranoica.

— Está bem. Vou tentar. Você venceu.

— Pfff...Rá!

— O que é que foi esse som? Sentiu alguma dor no peito?

— Nada, estou só rindo de novo. Mais uma vez, as cortinas se fecharam, e você nem reparou.

— Droga, vou morrer asfixiada aqui dentro!

— Sim, vai. Até o primeiro ato de amanhã, e tudo volta ao normal.

— Que não seja o nosso último ato!

— Claro que não. Nunca é.

— Espero mesmo. Boa noite, Comédia.

— Boa noite, Tragédia. Até amanhã.



sábado, 28 de setembro de 2013

Madruga Cruzada

TRIIIIIIIIIIIIM!

-- Amor, tá acordada?

-- Hein?!

-- É, já vi que não.

-- Eu não estava até você ligar, né?

-- Amor, acho que estou com insônia.

-- Jogar FIFA até às 3 da manhã agora se chama “insônia”?

-- Não joguei até 3 da manhã.

-- Ah, não?

-- Não, foi até às 4.

-- Está vendo só? Se vira aí, me deixa dormir. Tchau.

-- Espera! Não consigo, amor, fala um pouco comigo.

-- Um pouco. Pronto, agora dorme.

-- Bem que você podia me contar alguma coisa do seu trabalho, hein, amor?

-- Por que eu faria isso a essa hora?

-- Para ver se eu pegava no sono de vez.

-- Ah, agora tem mais essa?! Além de me acordar, ainda vem falar mal do meu trabalho?

-- Você quer que eu fale o que de quem trabalha como recepcionista de um hospital?

-- Hein? Tá louco?

-- Hein o quê?

-- Eu sou contadora.

-- Com assim? Não é a Carlinha que está falando?

-- Não, aqui é a Renata. Quem é?

-- É o Roberto. Foi mal, liguei errado.

-- Fazer o quê? Tchau.

-- Não, espera!

-- O que foi?

-- Já que você acordou mesmo, diz aí. Ser contadora é mais entediante do que recepcionista de hospital, né? Tem como você falar do seu trabalho e me ajudar a dorm...

PLACT!

-- Desligou na minha cara?! Que abusada...


                                                       Imagem: wwww.minhavida.com.br

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Livro da Semana 10: “Não Faz Sentido – Por Trás da Câmera”

Fazia tempo que eu não vinha aqui dar dicas literárias, é verdade. Também é verdade que o “da semana” no título é uma mera licença poética. Mas tudo bem. O fim dessa hibernação, porém, tem um bom motivo. Vários bons motivos, na realidade. Como vocês já podem sugerir, estou falando do tão falado livro de Felipe Neto: “Não Faz Sentido – Por Trás da Câmera”.

A obra de hoje é extremamente recente não só no que diz respeito a seu lançamento (agosto/2013), como também em relação aos acontecimentos narrados. É tudo muito pensado e escrito num “hoje” cada vez mais “hoje”, até mesmo se você for ler em 2020 (quem ler o livro entenderá o que estou dizendo).

Para mim, em especial, teve um significado ainda mais forte. Vi no autor uma espécie de espelho de ideias e reflexões sobre a vida. Temos a mesma idade, com trajetórias pessoais bastante parecidas e ideias semelhantes. Ah, e também gostamos de Harry Potter. Enfim, não foi só isso que me chamou a atenção e me fez engolir o livro. Pelo contrário, esses predicados foram apenas a preparação do terreno e lhes explico o porquê.

Certa vez, conversando entre amigos, um deles (que trabalha no meio artístico) falou: “se você não estudou na PUC, não fez Tablado ou não tem pai famoso, então esquece. Não há oportunidades para quem é de fora”. Esta frase se referia especificamente a teatro, direção, novela, essas coisas. Como não poderia deixar de ser, me marcou profundamente. Passei a refletir na razão de um meio supostamente tão liberal como o artístico ser tão fechado a talentos “de fora”. E como isso é injusto.

Foi com esta mesma frase na cabeça que fui acompanhando todos os passos e angústias do Felipe, que veio, do nada (do Buraco do Padre, para ser mais preciso dando nome aos bois), para se tornar esse fenômeno midiático que é hoje. O melhor disso: como aproveitou o sucesso para empreender e passar adiante tudo que a sua experiência de vida e de trabalho trouxe até aqui como um verdadeiro guia.

Hoje posso dizer que a leitura do livro me fez abrir a cabeça para muitos tópicos da minha vida, me ajudando inclusive a refletir e decidir sobre aspectos profissionais, sobre os rumos pelos quais pretendo trilhar a partir de agora, que certamente são bem diferentes daqueles que tomei quando fiz o Vestibular, lá atrás em 2005.

Agora, mais do que nunca, recomendo a leitura da obra. Nunca é tarde para nos olharmos no espelho e nos perguntarmos se aquilo que estamos vendo refletido de fato faz sentido.

Para mim, não fazia mais. E para você?


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Sem saco

Estou sem saco.

Sem saco para a política.
Sem saco para a maldade.
Sem saco para as espertezas.
Sem saco para a sociedade.

Sem saco para as mentiras.
Sem saco para a ingratidão.
Sem saco para o trânsito.
Sem saco para os ignorantes por opção.

Sem saco para os egoístas.
Sem saco para os desonestos.
Sem saco para a injustiça.
Sem saco para falsos artistas.

Sem saco para os impacientes.
Sem saco para os espertos.
Sem saco para os vagabundos.
Sem saco para gente.

Tenho vontade de jogar tudo no lixo.
Mas precisaria de um saco.
E estou sem saco.

Que saco.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Decepção

A decepção é o combustível para a vida.

Se decepcionar é a arte de ir profundamente, nos subterfúgios da alma.

É perfurar suas entranhas.

É refletir sobre o mundo que te cerca e ter ânsia de vômito.

É pensar em morrer como se pensa em ir à cozinha pegar um copo d’água.

É pensar em transformar o seu destino em tudo aquilo que até o momento não conseguiu fazer.

É reverter o irreversível, muito pelo contrário, não é bem assim.

É contrariar o que se repete. Dia após dia.

É gritar todos os erros do mundo e inflamar a garganta.

É construir um telhado de pedra, numa casa de vidro.

É acelerar reto numa curva.

É ser simplesmente sacaneado.

Combustível caro esse.

Custa mais do que a gasolina.

E bem mais do que a pureza.

Custa olhar nos olhos.

Os olhos da cara.

Os olhos da honra.

Os olhos da alma.

Desafortunados aqueles que te causam decepção.

Por mais caro que ela te custe.

Não vale uma consciência limpa.

Nem uma noite bem dormida.



sexta-feira, 21 de junho de 2013

Desabafo*

*por Vinícius Alvarez, presente ontem nas manifestações no Centro da cidade, aqui no Rio de Janeiro

"Estou anestesiado. Ontem tive uma descarga de adrenalina absurda e hoje estou exausto. Cansado. Não sei o que pensar, mas talvez estas palavras me ajudem. Sempre o fizeram. (post scriptum: estou muito mais “leve” depois de escrever este texto)

Ontem eu vi o choque. Eu vi o terror. Homens de preto. Muitos. Fiquei longe, como a prudência manda, mas meu medo não. O pânico era palpável. Assim como a adrenalina. Muita. Só consegui dormir desmaiado. Minhas forças se esgotaram. Bebi para entender e continuo sem o fazer. Não entendo. Acho que ninguém entende. Não vi flores. Vi um muro de lamentações confuso e abstrato.

Estava com um amigo de um amigo. Hoje parece um fantasma. Assim como com certeza o sou para ele. Foi tudo tão surreal. Não consegui falar com ninguém. Não encontrava saída. Não sabia para onde correr, de que correr, quando correr.

Queria chegar mais perto e investigar, participar, entender, ver, sentir, chorar, xingar, pensar, mastigar, degustar aquela multidão. Mas não consegui. O choque não deixava. Os homens de preto mostravam que não estavam para brincadeiras. Gente tirando pedras portuguesas do chão para tacar na polícia. Gente sangrando. Eu senti um pouco de gás lacrimogêneo algumas vezes. É ruim. Dói.

Tento segurar um rapaz, que me vira, sangrando, e diz “você viu o que eles fizeram?! Você estava lá?!”. Deixei partir. Não posso ser opressor como eles. Eu não senti o que ele tinha. Outro rapaz, sentado, tentando segurar as lágrimas. Oferecem-lhe vinagre. O ajudo a sair do centro da manifestação.

Quem tinha medo, como, suponho, todos temos, ficou com medo. Quem tinha coragem, tentou, recuou, tentou, recuou, até que todos recuamos. Acuados. Desesperados. Neste vai e vem foram dez, doze vezes. O choque atira. Atiram fogos. O povo aplaude. O choque atira. Acabaram os fogos. Atiram pedras. O choque manda. Nós, no final, obedecemos. O barulho de vidro quebrando. Gritos de “para!” e “sem violência” já não adiantam. A violência nos tomou. A turba é surda, cega, muda e burra.

Não sei para onde o “movimento”, se é que ele ainda possui força inercial suficiente, vai. Não sei de nada. Acho que ontem foi o último grande ato (do Rio). Posso estar errado. Quero estar. Mas não sei se temos mais forças. Deveríamos ter. Tem muita, muita coisa errada. Mas acho que não é deste modo que vamos resolver.

Não tenho soluções praticas e viáveis para apresentar e sei que isto é falho. Mas a descarga elétrica que eu tive ontem vai ficar comigo para sempre. E isto é real. E tinha que ser escrito."


                                                            Foto: site do Jornal Extra

domingo, 16 de junho de 2013

Muito Prazer

Brasil era um menino quieto. Vivia na dele, desde que nasceu. Nunca incomodou ninguém. Brigava de vez em quando com alguns vizinhos, mas nada grave. Coisa de criança. Porradaria, daquelas brabas, não era coisa do Brasil.

Mesmo porque, o rapaz era extremamente talentoso. Com arte na veia, cheio de vida, desenvolto e inteligente. Só que era praticamente mantido numa redoma moral. Uma redoma cheia de limites impostos pelos seus rígidos pais, que não deixavam o menino criar asas sozinho. Pelo contrário, só exploravam o rapaz.

Brasil teve que trabalhar desde cedo, ralando, trazendo o sustento pra casa, enquanto seus pais apenas administravam o dinheiro do trabalho imposto, gastando a seu bel prazer. Ao pobre Brasil, nada, apenas uma mesada que mal dava para comprar uma garrafa de vinagre. “Você é jovem, rapaz. Cheio de energia, tem que trabalhar mesmo!”, bradavam. E Brasil trabalhava, trabalhava, trabalhava. Estava começando a ficar cansado com a situação.

Até o dia em que, de repente, os pais de Brasil cortaram vinte centavos de sua mesada, com justificativa “no preço do arroz, que aumentou”. O trabalho do rapaz, que já pouco rendia, renderia ainda menos. Foi a gota d’água.

O menino virou homem. Levou um choque de realidade. Passou a pensar. Começou a incomodar. Os seus pais foram os primeiros a perceber a mudança. Logo deixaram o filho de castigo. Mas ele precisava sustentar a casa, então não deu muito certo. Tentaram, então, partir para a agressão. Tinham que deixar marcas, para o moleque (para eles será sempre um moleque) aprender.

E ele aprendeu.

Aprendeu a pensar.

Aprendeu a agir.

Aprendeu a se olhar no espelho.

Aprendeu a se amar.

Hoje, o menino Brasil passa por um processo de afirmação. De autoconhecimento. Está virando um homem de verdade, maduro, reflexivo, engajado e proativo. Aquele, que não incomodava ninguém, parece não existir mais.

Os seus pais lamentam, fingem que ignoram a mudança, tentam de tudo para acabar com essa “rebeldia sem causa”.

Mas eles perderam essa.

Agora só lhes resta se perguntar, incrédulos, finalmente após tantos anos: “que menino é esse?”.

É a força do Brasil.

Prazer em conhecê-lo.


                                                      Imagem: www.gentedeopiniao.com.br

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Seção Livro da Semana - 9

Alô, alô, galera boa.

O livro dessa semana é curioso e nos traz uma história fictícia (será mesmo?) envolvendo o mundo competitivo e "cruel" da publicidade. Estamos falando da obra "29,99", do francês Fréderic Beigberder.

Uma vez que o próprio autor é publicitário, o livro traz detalhes muito reais desse mundo corporativo um tanto quanto diferente. Transita entre passagens bem humoradas com situações absurdamente surreais e perturbadoras, que nos fazem refletir sobre o que se passa atrás de cada 30 segundos de comerciais na TV por aí afora.

A história é narrada pelo protagonista Octave, um publicitário famoso, com um salário invejável e capaz de atrair ainda mais dinheiro, mulheres e cocaína em quantidades suficientes para lhe proporcionar uma sensação de indestrutibilidade. Aos, poucos, porém, vamos percebendo que Octave está mais para morto do que vivo, é infeliz, insatisfeito e nem todo o aparente glamour de sua vida o impede de ser um eterno nostálgico, noite e dia suspirando pela mulher que o deixou.Até que um dia, para variar um pouco, sair do marasmo e das mentiras do mundinho publicitário, começa a escrever um livro sobre a realidade que o cerca, revelando os piores podres dos bastidores da propaganda com um humor ácido e provocador. A grande polêmica causada na França é saber se o autor, Fréderic, escreveu algo próximo de uma autobiografia ou se realmente é tudo criatividade de sua cabeça. Ninguém sabe.





sábado, 4 de maio de 2013

"Auto" lá!


Foco, poder, prosperidade, determinação, perseverança, amor, concentração, objetivo. Todas são lindas palavras. Fortes, com presença marcante em qualquer frase em que aparecerem. E é com base nisso, meus amigos, que muitos “escritores” se aproveitam. É esse o princípio básico dos textos de autoajuda: palavras fortes. Querem ver?

Vocês terão um exemplo mais adiante de como é simples fazer isso. Eu nem sou escritor desse tipo de “gênero”, jamais produzi nada parecido. Mas estou aqui tranquilamente pensando em algo para te deixar muito bem, feliz, confiante e, claro, iludido. Assim você comprará o meu próximo livro, que também te ajudará a ficar tudo isso novamente. E você me ajudará a ser mais rico. No fim, você é quem me ajuda. Mas não percamos o fio da meada, não é? Afinal, eu não sou escritor de autoajuda, então não vou ficar rico.

Primeiro, importante pensar num tema para “ajudar” o leitor. Decisão muito difícil, que dura cerca de 7 segundos para ser tomada: carreira e profissões me parece interessante a se abordar. Todo mundo minimamente ambicioso tem ou tenciona ter uma carreira. Moleza. Daí em diante, como se fosse mágica, as palavras fluem de uma maneira em que se misturam, se sustentam, se dão as mãos e te levam para uma corrente mais abstrata do que um quadro pintado  de branco com um ponto preto no meio de um pônei alado andando de bicicleta (com rodinhas).

Claro que a ideia aqui é geral, não me especifico em um ou outro livro/texto de autoajuda. Existem exceções? Claro que sim. Há obras de psicólogos, consultores financeiros, dentre outros profissionais, que te dão embasamento e orientações concretas, com estudos e aprofundamento muitas vezes científicos. Não é desses livros que falo, acho que deu pra entender.

Aqui vai, então, o texto de autoajuda que preparei para vocês. E lembrem-se: NÃO ACREDITEM NELE! Eu que escrevi e não acredito em uma vírgula do que disse, então não caiam nessa. Vamos lá:

“A vida é um ciclo abundante de oportunidades na roda da fortuna da prosperidade. Todos, sem exceção, temos um lugar ao sol. Nem que seja por dez segundos, a chance sempre virá. Tenha perseverança e não desista. A corrida pelo sucesso tem muitos obstáculos para você, mas também para todos à sua volta. Se diferencie. Busque na fonte da ternura toda a concentração para te fazer chegar ao topo. Ah, e claro, jamais esqueça de amar. O amor é a corrente fluvial que te carrega para o pote de ouro ao final do arco-íris. Tenha em mente o seu objetivo. É nele que você deve focar. Só você tem esse poder. Seja forte para não desistir. E, quando chegar lá, persevere para não se deixar cair. O segredo é sempre prosperar e buscar o progresso sem desanimar. Ame a si mesmo, não se deixe derrubar e não desista jamais. Todo seu esforço será recompensado. Boa caminhada! Porque sorte só existe para quem tem foco.”

Viram que coisa mais fofa que acabei de escrever em três minutos de mistureba de palavras lindas e poderosas? Ora, pessoal, a ideia aqui é básica. Livros de autoajuda são facilmente elaborados porque partem da ideia errada de que os conselhos do escritor (às vezes até por experiências pessoais dele) podem ser moldados para a vida de qualquer um com palavras sentimentalmente expressivas. Não é assim tão simples. O contexto de nossas vidas é muito importante na hora de se deixar orientar por alguém que escreve para tantas pessoas diferentes.

Eis a armadilha: o “gênero” autoajuda te anestesia com lindas mensagens que nada querem dizer, para você achar que, dali em diante, terá todos os ingredientes para dar uma guinada na vida. Comigo (e, prestem atenção, disse “COMIGO”), o que ainda funciona é conversar com a família, os amigos e, claro, com o meu espelho.

Tente você também, antes de pensar em comprar algo do tipo “Como vencer na vida em 1000 passos sem trabalhar” (a não ser que seja um livro cômico).

Pode realmente te ajudar.



quinta-feira, 25 de abril de 2013

Livro da Semana - 8

Fala, galera!

Depois da minha última crônica ("Escadas" - quem ainda não leu, então leia!), eis que estamos aqui para cumprir com o compromisso para dar uma boa dica de leitura nessa semana.

E o livro da vez é da autoria do Jô Soares: "O Xangô de Baker Street".

Livro este que já virou filme, inclusive.

Você pode até não gostar muito da postura do Jô como apresentador ou humorista. Tudo bem, às vezes ele erra a mão mesmo. Mas, como escritor, tem um grande talento.

A história gira em torno de um mistério aqui no Brasil, porém com a participação especialíssima do detetive mais conhecido de todos os tempos: Sherlock Holmes. O que teria feito o grande detetive parar aqui? O sumiço do violino Stradivarius, de ninguém menos que Dom Pedro II! Em paralelo, uma onda de assassinatos assola o Rio de Janeiro da época, confluindo tudo para a investigação.

Misturando suspense, política e humor refinado, o livro traz passagens épicas e divertidíssimas, além de um final muito surpreendente. Muito agradável a mistura que Jô realizou na obra, e é esta a dica do "Eu, Cronista". 

Vão correndo ler!


domingo, 21 de abril de 2013

Escadas


A humanidade precisa de grandes homens. E precisa de grandes babacas. Tudo grande. Tudo em doses extremas. São os santos e os vilões. O oito e o oitenta. Isso pode ser legal, até divertido, competitivo. Mas é extremamente perigoso.

Aqui no Brasil (falarei especificamente daqui porque é onde conheço bem), tem-se o costume de colocar nomes pomposos em ruas, estádios, praças públicas, dentre outros, para homenagear grandes pessoas. Gesto bonito, se não fosse um pequeno problema: quem é que julga a grandeza e o merecimento dessas pessoas?

Vamos caminhar com alguns exemplos práticos. Estamos entrando agora no mês de maio e, dentre milhares de lembranças merecidas ao dia das mães, um ou outro lembrará que a Lei Áurea (aquela que aboliu a escravidão) foi assinada neste mês. Quem assinou? Princesa Isabel, vocês sabem. Virou nome de rua, na zona sul do Rio, importante e imponente. Bonita lembrança e tal, mas será que ela merecia mesmo tal honraria? A verdade é que Isabel somente assinou a lei. Não era politizada e não tinha o menor interesse por nada do assunto. Fez o que lhe pediram. Muita gente esteve envolvida nisso, lutou de verdade para abolir a escravidão, mas todos foram esquecidos pelo caminho. São as escadas da história.

Eis a questão: os fatos históricos adoram uma grife. Barões, príncipes, princesas, generais, presidentes, imperadores. Todos são comumente citados, com seus nomes, sobrenomes, pedigrees, biografia e contexto. Sempre eles destacados, com o “povo” vindo atrás, de acessório, sem nomenclatura definida. Sem importância detalhada. Mas nós gostamos disso. Adoramos aumentar os feitos de pessoas carregadas com sua marca tarimbada. Tudo agora é genial, se vier de alguém com mídia.

Assim vimos também a questão das vilanias. Tudo bem que Hitler se empenhou muito para ser o grande antagonista da humanidade que se tem notícia, mas vejamos, por exemplo, líderes atuais transformados em santos e diabos, dependendo apenas da dose de paixão ou ódio que for incluída no seu caldeirão ideológico. A morte de Hugo Chavez trouxe à evidência esse embate louco e carregado de emoções muitas vezes injustificáveis sob o ponto de vista da razão. E não precisamos refletir muito para lembrar de outros tantos seres que vêm sendo alvo dessa discussão “mitológica”, principalmente nas redes sociais: Joaquim Barbosa, Lula, Senna, Fidel Castro, Neymar, Obama e por aí vai.

Mas, calma lá. Vamos parar, pensar, estudar e entender, né? Às vezes, respirar faz bem. Oxigena o cérebro e traz a verdade.

Esse é o problema: a verdade é que não há verdades absolutas, nem me proponho a buscá-la sobre o assunto. Não sou antropólogo, sociólogo, nada disso. Só acho curiosa a necessidade de nos agarrarmos, às vezes com fé cega, aos grandes ícones da humanidade. Nem sempre paramos para refletir se esses ícones merecem mesmo o status, se a escada deles não teve sua importância (lembram do filme “O Discurso do Rei”?), se eles mesmos foram tão santos assim.

A vida real não é uma novela, com Ninas e Carminhas. Mesmo porque, até mesmo para estas duas personagens, foi necessário o reforço brilhante de outros personagens, de outras histórias, outras falas e outro emaranhado de situações construídas em torno de tudo.

É disso que a história é feita: de muita gente. De muita carne, muito osso. Muito suor para subir.

Porque, para descer, é mole: todo santo ajuda.




                                                       Ilustração: www.gostodeler.com.br