sexta-feira, 20 de abril de 2012

O Importante é Competir?


História nº 1

Pedrinho: Pai!!

Pai: Diga, meu filho.

Pedrinho: Quero um XMAX! Me dá um?

Pai: XMAX?! Nunca ouvi falar. O que é isso?

Pedrinho: Poxa, pai, deixa de ser velho. É o vídeo game mais maneiro de todos os tempos!

Pai: Ah...

Pedrinho: Ah?! E aí, vai me dar um?

Pai: Vou sim, no seu aniversário.

Pedrinho: Caramba, pai, mas meu aniversário é em outubro só! Falta muito!!

Pai: Paciência ué. Por que eu te daria um vídeo game agora?

Pedrinho: Porque o Luquinhas lá da escola tem um, e eu quero ter também! Isso é muito injusto!

(mãe chega)

Mãe: Olá, rapazes. Como estão as coisas?

Pedrinho: Uma droga! O papai é um chato. Ele não me ama! (chorando copiosamente)      

Pai: Como é que é?! Só porque vou te dar o tal do X sei lá o quê no seu aniversário e não agora?

Mãe: Não chora, Pedrinho. Conta pra mamãe o que está havendo.

Pedrinho: Eu queria tanto ter um XMAX logo! O Luquinhas ganhou um, e eu quero ter também!

Mãe: Calma, filhinho. A mamãe vai te dar um hoje. Vamos lá pra loja comprar.

Pai: O quê?!

Mãe: Você não percebe? Isso é bullying! Quer ver o seu filho traumatizado?

Pai: Acho que isso tem outro nome. Você é quem sabe.

 (uma semana depois)

Mãe: E aí, filho, está curtindo muito o seu XMAX?

Pedrinho: XMAX? Já joguei fora.

Mãe: Jogou fora? Como assim?

Pedrinho: É, mãe. Primeiro o Luquinhas jogou o dele fora. Ele disse que o vídeo game era chato e resolveu jogar no lixo. Agora ele está querendo colecionar selos. Também joguei no lixo o vídeo game. Quero selos! O Luquinhas já tem um monte. Não quero ser passado pra trás.

Mãe: (perplexa) Olha quem fala. Quem foi passada pra trás fui eu. Seu pai ganhou.

  ***   ***   ***

História nº 2


Na Cúpula Anual dos Estados-Membros da Federação:


Rio de Janeiro: Fala aê, galera! Como vocês estão?

São Paulo: Estou indo, devagar e sempre.

Minas Gerais: Devagar? Uai, você não é o maior dos estados? Agiliza isso aí então.

SP: Isso é verdade. Modéstia à parte.

RJ: Modéstia ou moléstia? Ah, que balela! De que adianta ser o maior, mas não ser o melhor? Vai ganhar dinheiro e comemorar no Tietê respirando poeira? Que delícia.

MG: Ih, agora pegou pesado.

RJ: Peguei nada. Esse pessoal aí que gosta de se proclamar o maioral e não tem a capacidade de olhar pro próprio umbigo. Eu hein!

SP: Calma aí, meu. Eu só estou dizendo que sou o maior mesmo. Os números não mentem.

RJ: Quer falar de números? Então tá. Quantas praias você tem?

MG: Opa! Não toca nesse trem aí que eu não gosto.

RJ: Desculpa, Minas. Nada pessoal.

SP: E quem disse que é obrigatório ter praia para ser bom? Que mania chata de achar que areia e mar sujo trazem felicidade!

RJ: Cara, você só tá falando isso porque não tem. Recalque puro.

MG: Eu também não tenho, mas compenso de outras formas. Sou um berço cultural pro país! Aqui nasceram ícones como Pelé, Drummond e o Alexandre Pires.

RJ: Nossa. Como estou impressionado. O Alexandre Pires é mineiro? Caramba. (bocejo).

SP: É isso aí! Aqui também tem muita cultura. Temos até o Museu da Língua Portuguesa!

RJ: De que adianta? Vocês ainda mal sabem pronunciar “Corinthians” direito. Isso sem falar em “os mano” e “as mina”. Vergonhoso!

SP: Ah vá! Você está tirando uma com a minha cara? Deixa de ser mala! Assume que você é um nanico com meia dúzia de praias imundas e que gosta de tirar onda.

MG: Sem falar na violência né? Deve ser duro atravessar a rua com tanta bala perdida.

RJ: Deve ser duro ser insignificante. Tanta pose pra nada. A final da Copa vai ser aqui. As Olimpíadas vão ser aqui. Eu sou pop! Chupem essa manga!

SP: Não queria mesmo.

MG: Eu também não. Esse trem aí só dá confusão.

RJ: Que trem? Tão construindo o novo Metrô. Bem melhor!

MG: Deixa pra lá.

SP: Bem, pessoal, como sou muito importante, preciso ir. Tenho mais o que fazer. Se eu parar, o país quebra. Muito diferente de um certo alguém aí que para porque traficante mandou!

RJ: Isso aí. Não para de trabalhar não. Alguém precisa fazer isso mesmo. Vou ali pegar uma onda pra conservar minha beleza. É disso que os gringos gostam. Ou melhor: as gringas...

MG: Bem, já que todo mundo tá indo, também vou. Estou morrendo de fome. Comer um pãozinho de queijo pra resolver isso aí.

RJ: Quer sal? Tenho um monte.

Distrito Federal: Alto lá! Aonde os três pensam que estão indo?

RJ: Ahn..p-p-pra lugar nenhum. Eu acho.

SP: Isso. Lugar nenhum. Concordo.

DF: E você, Minas? Vai ficar quietinho aí no seu canto? Responda!

MG: Estou aqui uai! (ai que fome!)

DF: Muito bem. Parem com essa palhaçada agora! Não tem ninguém melhor que ninguém aqui. Tem quem manda. E quem manda sou eu. Assunto encerrado dilma vez por todas. Ponto final.

***   ***   ***

Essas pequenas e fictícias histórias mostram, mesmo que metaforicamente, como o ser humano é competitivo. Até que ponto precisamos ser os melhores? Não basta sermos bons ou pelo menos nos empenharmos ao máximo para isso? Não dá para todo mundo coexistir num espaço em que cada um seja bom sem invejar o próximo? Acho que dá. O importante não é competir. Não é ser o melhor. O importante é coexistir. A vida é um quebra-cabeças em que cada um faz a sua parte para encaixar. Essa é a moral das histórias.

Fica aqui a dica então do melhor blog de crônicas da internet.




2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "O importante é coexistir. A vida é um quebra-cabeças em que cada um faz a sua parte para encaixar."

    Muito bom!

    Texto leve, agradável de ler. Na história 2, eu fui até lendo depressa, ansiosa pra conferir as respostas de cada um dos Estados... Haha! Foi um diálogo instigante e, também, engraçado! E curti muito a criatividade na elaboração textual, a ideia de escrever historinhas, tipo contos, pra trazer uma mensagem singela de vida.

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