terça-feira, 6 de março de 2012

O Terno e o Preconceito

Preconceito é o tema da moda. Por onde quer que andemos a nos aventurar na obtenção de informações cotidianas, seja em jornais, revistas, televisão ou internet, pode ter certeza de que o assunto sempre estará em vigor. Com a propagação em massa de tudo atualmente, por milhares de vezes ao dia, em milésimos de segundo, a conclusão lógica é que essa abordagem caiu na mesmice do “lugar comum”.

Por isso, peço muita calma nessa hora ao amigo leitor. Não desista de ler esse texto achando que se trata de mais uma daquelas maçantes e entediantes dissertações antropológicas sobre a origem, os males e a consequência dos estereótipos, como se fosse mais um Globo Repórter a respeito. Não, não é.

O fato é que recentemente me peguei numa situação, no mínimo, curiosa, pra não dizer alarmante, do ponto de vista prático. Resolvi compartilhar nesse espaço de estreia com vocês.

Como está descrito no meu perfil, sou advogado, portanto, nas Condições Normais de Temperatura e Pressão, eu uso terno e gravata para trabalhar. Até aí, tudo bem. Fora o fato de que, durante o verão, isso se torna uma razão imensa para odiar o calor e se arrepender de ter nascido (brincadeirinha, mãe!), sem problemas.

Ocorre que, como a maioria dos seres humanos, volta e meia preciso ir ao banco. Bom, o que lé tem a ver com cré? Calma, leitor! Chegarei lá. Bom, a questão é que duas situações completamente irrelevantes na vida de qualquer pessoa (inclusive na minha) e, aparentemente, totalmente indiferentes entre si me fizeram ter a ideia de fazer um teste e, assim, abrir os olhos para questões práticas, inseridas na nossa sociedade, mesmo sem que percebamos de cara.

O que fez esse mero escriba? Passou a notar quantas vezes, num espaço de duas semanas, seria barrado pela porta-giratória de diferentes bancos, quando estava trajado de terno e gravata. Fui de curioso mesmo. Aliás, curioso é o resultado. Pois bem, em 4 ocasiões fui barrado nada mais nada menos que NENHUMA vez. Com o detalhe: em todas elas eu estava munido de dois celulares e um molho de chaves, tudo mantido dentro do paletó. Sorte a deles que não faço ideia de como se maneja uma arma.

Me empolguei nessa leiga (porém divertida) análise sociológica e resolvi mudar meu parâmetro. Um belo dia fui trabalhar casualmente. Apenas de calça jeans e camisa social. Na primeira oportunidade que surgiu, fui ao banco para ver o que aconteceria. Bingo! Fui barrado, é claro. Após tirar um dos celulares e as chaves, finalmente consegui adentrar ao recinto.

Não fiz mais testes desde então, mas comecei a refletir e a perceber com maior profundidade. De fato, sou olhado de forma diferente pela sociedade quando estou de terno. É fato consumado que, por exemplo, sou melhor atendido em restaurantes se eu estiver vestido dessa forma. É uma modalidade pouco explorada do preconceito: o preconceito bom. Não que seja legal ter preconceito, de forma alguma. Porém, não deixa de ser interessante pensar (e vivenciar) de modo que pelo simples ato de me vestir de maneira formal já me torna automaticamente confiável (no caso do banco) e importante (no caso dos restaurantes e nos milhares de “doutor” que ouço ao longo do dia, mesmo não tendo qualquer doutorado). Apesar de ser algo bom, particularmente gostaria de ser bem tratado independentemente da minha aparência, logo, não fico muito confortável com essa disparidade de tratamento.

É um caso a se pensar. O gordo não teria relevância perto do magro. O alto e o baixo também se relativizam entre si. Com o bom e o mau não poderia ser diferente. O problema é que, se o preconceito bom está enraizado no nosso cotidiano, mesmo com condutas simples, o mau também está lá. Inevitável e perigoso. Como controlar isso, nas duas extremidades, é o desafio de cada um de nós. Isso se a pessoa quiser controlar, é claro. Porque de gente com ego inflado ou com a maldade no coração o mundo está cheio. Sem preconceito. Com ou sem terno.



Ilustração: http://thiagomendanha.blogspot.com

2 comentários:

  1. Um bom começo pode ser quando as pessoas começarem a exigir bom atendimento, independente da roupa que estejam vestindo, parando de frequentar locais com serviço a desejar. Aí, independente do prejulgamento do atendente, ele será cobrado em tratar a todos da melhor maneira.

    Carol

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  2. Eu tenho um nome diferente pra isso: Marketing. Em geral você prefere um produto bem arrumado que uma embalagem furreca, somos treinados para confiar mais em pessoas bem arrumadas. Da mesma maneira que o produto com uma embalagem mais bonita parece ser melhor uma pessoa bem arrumada parece ter mais dinheiro... simples!

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