terça-feira, 20 de março de 2012

64

“I could be handy, mending a fuse                    (Eu posso ser útil, consertando um fusível)
When your lights have gone.                                
(Quando suas luzes apagarem.)
You can knit a sweater by the fireside         (Você poderia me tricotar um suéter perto da lareira)
Sunday mornings go for a ride,                  (Nas manhãs de domingo iremos dar uma volta),
Doing the garden, digging the weeds,
          (Fazendo o jardim, cavando a erva daninha)
Who could ask for more?”                                          (
Quem poderia pedir por mais?)

(trecho da música "When I'm Sixty-Four" - Beatles)

 
O post de hoje tem inspiração beatlemaníaca. Aliás, a música acima é bem diferente do repertório dos meninos de Liverpool, em geral. É uma música, acima de tudo, suave e fofa. Se você ainda não teve o prazer de escutá-la, recomendo que faça isso o quanto antes. É bela e reflexiva. Afinal, nós queremos envelhecer e nos ver idosos? Ou melhor, estamos preparados para isso?

O trecho da canção “When I’m Sixty-Four” que extraí reflete bem a visão de uma geração que atualmente já tem a faixa etária projetada. A música, por exemplo, foi lançada em 1967, quando seu compositor, Paul McCartney, tinha lá seus 25 anos de vida (aliás, especula-se que ele a compôs quando tinha apenas 16 anos). Não é preciso fritar os miolos para perceber que a projeção de Paul não se realizou nem minimamente em relação a ele próprio, não é mesmo? Afinal, mesmo já na casa dos 70 anos de vida (muito bem vividos, diga-se), Sir McCartney está longe de ficar cuidando de jardins. O povo agradece.

O foco a instigar o texto, no entanto, não é exatamente o que fez ou deixa de fazer o ex-beatle, nem os (falhos) exercícios de vidência dele. A reflexão gerada é tentar fazer o mesmo que Paul. O que estaremos fazendo aos 64 anos? A versão da música é romantizada, é claro. Lá não se fala em joelhos doídos, em planos de saúde com tarifas de perder a saúde, nas dificuldades para pegar um ônibus nem mesmo na escassez de respeito por boa parte das pessoas mais jovens. Seria, então, a canção uma espécie de “Meia-Noite em Paris” às avessas? Não por coincidência, ao ouvir a música pela primeira vez, logo me veio a ideia de estar diante da trilha sonora de um filme de Woody Allen. Típico. Será que essas obras não querem nos alertar? No lugar de celebrar e valorizar cada vez mais o passado, não deveríamos sonhar com o futuro e, nele, festejar as pequenas felicidades cotidianas de quem, após anos e anos, tanto já viveu?

De mais a mais, não podemos nos esquecer de algo importantíssimo: viver o presente. Sem ele não há futuro, não há passado, não há nada. Independentemente da idade que você, leitor, tenha, só pelo simples fato de estar visitando e lendo um blog, na internet, significa que é jovem. Não, não sou preconceituoso. Não é nada disso. Você pode ter 64 anos. Se estiver navegando e fuxicando blogs alheios, pode ter certeza de que a sua capacidade de adaptação é enorme, portanto ainda é um garotão flexível e disposto a novos rumos. Mas jamais esqueça da sua essência com a honrada marca da maturidade.

Ainda que seja esperado que as próximas gerações de idosos que vêm por aí não cultivem hábitos tão simples como os descritos na música, sinceramente, que pessoa pode condenar alguém que almeja uma terceira idade assim tão pacata? Querer para si que seus segundos valham à pena, que o tempo contrarie Cazuza e pare para afazeres tão banais e, ainda assim, tão relevantes não pode soar como sinal de velhice tola e vazia. Talvez seja a busca pela paz de espírito (acho que não tenho cabedal prático ainda para saber). É possível que seja a esperada paz interior num contexto de tantos anos. A valorização do segundo a mais de vida que aquela pessoinha tão vivida acabou de ganhar. De uma vida que agora passa devagar, devagarinho, e que precisa, mais do que nunca, da compreensão e da paciência do resto do mundo para seguir em frente. Quem sabe aos 64 venhamos a descobrir que isso, na verdade, é fazer a vida valer à pena? 

Quem poderia pedir por mais?


                                                       Foto: www.monitorando.org

2 comentários:

  1. Acredito que o importante seja cuidar de si mesmo enquanto jovem para se ter força, lá na frente, para continuar usufruindo de cada momento, e não depender das lembranças dos 20 ou dos 30 para sorrir e ver como a vida FOI boa, mas sim chegar aos 64 e quiçá aos 100 com certeza de que ela É boa, pois ainda se vive.
    Carol

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  2. É isso ai Carol, concordo plenamente, hj a expectativa de vida está tão alta que aos 64 anos ainda tem mta coisa pela frente. Além disso, a vida só acaba para aqueles que perdem a vontade de vive-la, que são infelizes e não sabem aproveitá-la!

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