sexta-feira, 23 de março de 2012

Arte

O que é arte? Você já tentou definir essa minúscula palavra alguma vez? Parece tão simples defini-la, de tão comum que é ouví-la, mas sempre fica faltando alguma coisa.

A verdade é que o termo “arte” tem sido usado não só para se referir aos seus significados mais tradicionais, mas também tem sido um comum elogio. Não é muito raro nos depararmos com frases do tipo “Dr Fulano é um artista”, se referindo a um dentista ou médico cirurgião, por exemplo. Mas cumprir bem a sua profissão é capaz de tornar alguém artista? E aquela pessoa que trabalha com a arte em si e cumpre bem o seu papel? É uma “artista artista”?

Uma das saídas é recorrer ao dicionário, bom e velho companheiro de aventuras e curiosidades. São algumas definições que apresentam diferenças bastante curiosas. O significado primeiro do Aurélio – século XXI é: “1. Capacidade que tem o ser humano de pôr em prática uma ideia, valendo-se da faculdade de dominar a matéria”. Boa definição, mas ainda superficial e abstrata demais. No Michaelis, temos: “1. Conjunto de regras para dizer ou fazer com acerto alguma coisa”. Definições completamente opostas e distantes, mas logo abaixo, no mesmo Michaelis, entre as nove opções, bastante sucintas, vemos algo mais próximo do que se tem como “arte” ao primeiro pensamento: “6. Dom, habilidade, jeito”. No Aurélio, ainda encontrei: “3. Atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação” e “4. A capacidade criadora do artista de expressar ou transmitir tais sensações ou sentimentos”.

São muitas as possibilidades de definição do conceito, que só nos fazem perceber ainda mais o quanto é difícil refletir sobre a arte, mas só evidencia que, se é difícil conceituá-la, o que dirá daqueles que a produzem, que a criam do zero? No caso de atividades profissionais (como a do dentista e a do cirurgião citadas acima), por maior que tenha sido o prazer proporcionado a quem as fez, são tais atividades reflexos ou representações de sentimentos ou são simplesmente trabalhos feitos com técnica bem desenvolvida, longe de sensações pessoais?

Nesse sentido, para satisfazer esse impasse, uma das doze definições sem restrição prévia apresentadas no Aurélio parece sepultar de vez a questão: “2. A utilização de tal capacidade, com vistas a um resultado que pode ser obtido por meios diferentes”, ainda com exemplos como: “a arte da medicina” e “a arte de cozinhar”. E, para não ficar muito atrás, no Michaelis também tinha: “7. Ofício, profissão. 8. Maneira, modo”.

O mais importante, creio, na vida de um profissional, seja ele burocrático ou um artista nato, talentoso, é a possibilidade de se eternizar através da sua obra, do seu legado. Ouvir a voz de John Lennon, gravada há mais de 40 anos, num  iPod ou ler Machado de Assis num Kindle mostra o quanto é a importância do artista e de sua obra. Seu corpo se vai, mas a sua mensagem se eterniza através de gerações e gerações. A arte jamais será algo velho, ultrapassado. Isso é o que chamamos de legado. Ser artista é criar, literalmente, a sua forma de eternizar na cabeça das pessoas, pelo seu talento, seu dom e, é claro, sua capacidade de execução das ideias. É atemporal.

A conclusão nos parece clara: não há conclusão definitiva. Não existe apenas uma definição para “arte”, e também não há uma principal ou mais comum, como ocorre com outros termos, já que essa palavra é usada freqüentemente nos seus diversos significados. Diferenças conceituais à parte, o que importa, no fim das contas, é apreciar uma boa arte e reconhecer a sua própria, de modo a usufruí-la e oferecê-la ao mundo da melhor maneira possível. Crie seu legado, e sua vida não terá sido em vão.


Obs: esse blog presta as justas homenagens a um dos maiores artistas que o Brasil já viu: Chico Anysio, que faleceu hoje aos 80 anos. Artista dos mais talentosos e versáteis, deixa como herança para a eternidade seus 209 personagens criados. Sua vida, é claro, não foi em vão.


Ilustração: http://cabiludo.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário