domingo, 7 de abril de 2013

O Gênio


Era uma vez um sujeito chamado Silvério.

Um dia, ele estava andando por aí, pensando na vida sofrida, sem muito se importar com o caminho. Claro que o nobre rapaz acabou tropeçando e caindo.

Levantou revoltado. Xingou Deus. Xingou o mundo. Xingou o governo. Era um xingador de primeira grandeza. Observador, nem tanto. Por isso, demorou para perceber: havia tropeçado numa bela e reluzente lâmpada.

Mas não era uma lâmpada qualquer. Era diferente, curvilínea.

Passado o susto, nosso protagonista começou a analisar o artefato. Parecia antigo, mas ainda assim era muito bonito, daqueles que a gente só vê no cinema. Sua curiosidade foi tanta que tentou de todas as formas abrir para ver o conteúdo da lâmpada. Tudo em vão.

Depois de muito tentar, foi pelo caminho mais óbvio nessas ocasiões: esfregar. “Vai que as histórias e lendas são verdadeiras, né?”, pensou Silvério. Sonhar não custa nada, mesmo que incrédulo. A sua torcida era para chutar a desconfiança pra longe e ser feliz com um gênio maravilhoso, que lhe daria toda a fortuna do mundo (e odaliscas também).

Pois bem, após o esfrega-esfrega, nada aconteceu. Ficou frustrado, mas era bem muito óbvio, ele sabia. Lâmpadas mágicas não existem.

Quando já tinha desistido, de repente, sentiu uma picada bem forte na palma da mão:

-- Ai! O que é isso?

De supetão, sem pestanejar nem dar tempo do nosso Silvério pensar, veio a resposta:

-- Sou eu, o gênio da lâmpada, e agora o senhor é o meu dono. Sou seu amo.

-- Gênio?! Assim desse jeito? Pensei que você fosse maior.

Era uma formiga. Maior que a média das formigas, mas uma formiga.

-- Bem, se você acha que tamanho é documento, então vou procurar outro para realizar os desejos.

-- Opa, espera! Tenho direito a desejos mesmo? Não é lenda?

-- Se eu estou dizendo...

-- Bem, então como é que funciona?

-- O negócio é o seguinte: vou te oferecer duas opções de desejos. Você terá que escolher uma delas, e eu a realizo. Simples.

-- Está bem, manda ver.

A formiga-gênio deu aquela pigarreada, limpou a garganta e começou:

-- Meu caro amo, preste bem atenção. Qual das duas opções você escolherá como desejo: te darei R$ 30 milhões (livres de impostos), mas a sua vida terminará daqui a cinco anos. Ou, como segunda alternativa, você receberá R$ 20 mil por mês (também livres de impostos), sem prazo exato para morrer. E aí?

O nosso amigo Silvério pediu licença ao gênio-formiga e começou a pensar. Por um lado, seria muito triste morrer já dali a cinco anos. Era pouquíssimo tempo de vida. Mas, por outro, nada garantia que não morreria amanhã, por exemplo, caso optasse pela segunda alternativa. Isso sem contar com as odaliscas, os iates, os carrões, as festas...

Pensou, pensou, pensou e, por fim, decidiu:

-- Caro Gênio, tomei uma decisão: ficarei com os R$ 30 milhões. Vou morrer daqui a 5 anos, mas que se dane. Curtirei muito até lá. Paciência.

E assim foi feito.

 O gênio-formiga fez uns ziriguiduns, proferiu umas palavras estranhas, umas bruxarias e, de repente, tchum: Silvério estava rodeado de ouro, muitas joias, kinder ovos e pilhas de notas de dinheiro. O rapaz não cabia em si de tanta alegria, chegou até a tomar um banho no melhor estilo “Tio Patinhas”. Inesquecível.

Tudo soava tão perfeito que parecia que estava sonhando. Resolveu se beliscar, para ter certeza da realidade.

Mas a realidade dói, assim como um beliscão.

Era de fato um sonho. A verdadeira história era muito mais real e menos emocionante.

Silvério apenas foi picado por uma formiga e acabou caindo no sono. Continuava na sua vidinha mais ou menos, sem luxo nem banhos de Tio Patinhas. Sem odaliscas. Sem nada. Nem a lâmpada era real.

Pobre rapaz, ao menos foi bom para ele aprender a ser malandro numa próxima vez.

Agora, cá entre nós, foi muita ingenuidade acreditar em gênios, ainda mais gênios-formigas. Silvério mereceu esse final: recheado de vazio, sem dinheiro e picado por um inseto nada genial.

Moral da história: sonhar não custa nada, e é a única atividade realmente livre de impostos, por enquanto. 



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