Era
uma vez um sujeito chamado Silvério.
Um
dia, ele estava andando por aí, pensando na vida sofrida, sem muito se importar
com o caminho. Claro que o nobre rapaz acabou tropeçando e caindo.
Levantou
revoltado. Xingou Deus. Xingou o mundo. Xingou o governo. Era um xingador de
primeira grandeza. Observador, nem tanto. Por isso, demorou para perceber:
havia tropeçado numa bela e reluzente lâmpada.
Mas
não era uma lâmpada qualquer. Era diferente, curvilínea.
Passado
o susto, nosso protagonista começou a analisar o artefato. Parecia antigo, mas
ainda assim era muito bonito, daqueles que a gente só vê no cinema. Sua
curiosidade foi tanta que tentou de todas as formas abrir para ver o conteúdo
da lâmpada. Tudo em vão.
Depois
de muito tentar, foi pelo caminho mais óbvio nessas ocasiões: esfregar. “Vai
que as histórias e lendas são verdadeiras, né?”, pensou Silvério. Sonhar não
custa nada, mesmo que incrédulo. A sua torcida era para chutar a desconfiança
pra longe e ser feliz com um gênio maravilhoso, que lhe daria toda a fortuna do
mundo (e odaliscas também).
Pois
bem, após o esfrega-esfrega, nada aconteceu. Ficou frustrado, mas era bem muito
óbvio, ele sabia. Lâmpadas mágicas não existem.
Quando
já tinha desistido, de repente, sentiu uma picada bem forte na palma da mão:
--
Ai! O que é isso?
De
supetão, sem pestanejar nem dar tempo do nosso Silvério pensar, veio a
resposta:
--
Sou eu, o gênio da lâmpada, e agora o senhor é o meu dono. Sou seu amo.
--
Gênio?! Assim desse jeito? Pensei que você fosse maior.
Era
uma formiga. Maior que a média das formigas, mas uma formiga.
--
Bem, se você acha que tamanho é documento, então vou procurar outro para
realizar os desejos.
--
Opa, espera! Tenho direito a desejos mesmo? Não é lenda?
--
Se eu estou dizendo...
--
Bem, então como é que funciona?
--
O negócio é o seguinte: vou te oferecer duas opções de desejos. Você terá que
escolher uma delas, e eu a realizo. Simples.
--
Está bem, manda ver.
A
formiga-gênio deu aquela pigarreada, limpou a garganta e começou:
--
Meu caro amo, preste bem atenção. Qual das duas opções você escolherá como
desejo: te darei R$ 30 milhões (livres de impostos), mas a sua vida terminará
daqui a cinco anos. Ou, como segunda alternativa, você receberá R$ 20 mil por
mês (também livres de impostos), sem prazo exato para morrer. E aí?
O
nosso amigo Silvério pediu licença ao gênio-formiga e começou a pensar. Por um
lado, seria muito triste morrer já dali a cinco anos. Era pouquíssimo tempo de
vida. Mas, por outro, nada garantia que não morreria amanhã, por exemplo, caso
optasse pela segunda alternativa. Isso sem contar com as odaliscas, os iates,
os carrões, as festas...
Pensou,
pensou, pensou e, por fim, decidiu:
--
Caro Gênio, tomei uma decisão: ficarei com os R$ 30 milhões. Vou morrer daqui a
5 anos, mas que se dane. Curtirei muito até lá. Paciência.
E
assim foi feito.
O gênio-formiga fez uns ziriguiduns, proferiu umas
palavras estranhas, umas bruxarias e, de repente, tchum: Silvério estava
rodeado de ouro, muitas joias, kinder ovos e pilhas de notas de dinheiro. O
rapaz não cabia em si de tanta alegria, chegou até a tomar um banho no melhor
estilo “Tio Patinhas”. Inesquecível.
Tudo soava tão perfeito que parecia que estava sonhando. Resolveu se beliscar, para
ter certeza da realidade.
Mas
a realidade dói, assim como um beliscão.
Era de fato um sonho. A verdadeira história era muito mais real e menos emocionante.
Silvério
apenas foi picado por uma formiga e acabou caindo no sono. Continuava na sua
vidinha mais ou menos, sem luxo nem banhos de Tio Patinhas. Sem odaliscas. Sem
nada. Nem a lâmpada era real.
Pobre
rapaz, ao menos foi bom para ele aprender a ser malandro numa próxima vez.
Agora,
cá entre nós, foi muita ingenuidade acreditar em gênios, ainda mais
gênios-formigas. Silvério mereceu esse final: recheado de vazio, sem dinheiro e
picado por um inseto nada genial.
Moral
da história: sonhar não custa nada, e é a única atividade realmente livre de
impostos, por enquanto.
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