A
humanidade precisa de grandes homens. E precisa de grandes babacas. Tudo grande. Tudo em doses extremas. São os santos e os vilões. O oito e o oitenta. Isso pode
ser legal, até divertido, competitivo. Mas é extremamente perigoso.
Aqui
no Brasil (falarei especificamente daqui porque é onde conheço bem), tem-se o
costume de colocar nomes pomposos em ruas, estádios, praças públicas, dentre
outros, para homenagear grandes pessoas. Gesto bonito, se não fosse um pequeno
problema: quem é que julga a grandeza e o merecimento dessas pessoas?
Vamos
caminhar com alguns exemplos práticos. Estamos entrando agora no mês de maio e,
dentre milhares de lembranças merecidas ao dia das mães, um ou outro lembrará
que a Lei Áurea (aquela que aboliu a escravidão) foi assinada neste mês. Quem
assinou? Princesa Isabel, vocês sabem. Virou nome de rua, na zona sul do Rio,
importante e imponente. Bonita lembrança e tal, mas será que ela merecia mesmo
tal honraria? A verdade é que Isabel somente assinou a lei. Não era politizada
e não tinha o menor interesse por nada do assunto. Fez o que lhe pediram. Muita
gente esteve envolvida nisso, lutou de verdade para abolir a escravidão, mas
todos foram esquecidos pelo caminho. São as escadas da história.
Eis
a questão: os fatos históricos adoram uma grife. Barões, príncipes, princesas,
generais, presidentes, imperadores. Todos são comumente citados, com seus
nomes, sobrenomes, pedigrees, biografia e contexto. Sempre eles destacados, com
o “povo” vindo atrás, de acessório, sem nomenclatura definida. Sem importância
detalhada. Mas nós gostamos disso. Adoramos aumentar os feitos de pessoas carregadas
com sua marca tarimbada. Tudo agora é genial, se vier de alguém com mídia.
Assim
vimos também a questão das vilanias. Tudo bem que Hitler se empenhou muito para
ser o grande antagonista da humanidade que se tem notícia, mas vejamos, por
exemplo, líderes atuais transformados em santos e diabos, dependendo apenas da
dose de paixão ou ódio que for incluída no seu caldeirão ideológico. A morte de
Hugo Chavez trouxe à evidência esse embate louco e carregado de emoções muitas
vezes injustificáveis sob o ponto de vista da razão. E não precisamos refletir
muito para lembrar de outros tantos seres que vêm sendo alvo dessa discussão “mitológica”,
principalmente nas redes sociais: Joaquim Barbosa, Lula, Senna, Fidel Castro,
Neymar, Obama e por aí vai.
Mas,
calma lá. Vamos parar, pensar, estudar e entender, né? Às vezes, respirar faz
bem. Oxigena o cérebro e traz a verdade.
Esse
é o problema: a verdade é que não há verdades absolutas, nem me proponho a buscá-la
sobre o assunto. Não sou antropólogo, sociólogo, nada disso. Só acho curiosa a
necessidade de nos agarrarmos, às vezes com fé cega, aos grandes ícones da
humanidade. Nem sempre paramos para refletir se esses ícones merecem mesmo o
status, se a escada deles não teve sua importância (lembram do filme “O
Discurso do Rei”?), se eles mesmos foram tão santos assim.
A
vida real não é uma novela, com Ninas e Carminhas. Mesmo porque, até mesmo para
estas duas personagens, foi necessário o reforço brilhante de outros
personagens, de outras histórias, outras falas e outro emaranhado de situações
construídas em torno de tudo.
É disso que a história é feita: de muita
gente. De muita carne, muito osso. Muito suor para subir.
Porque, para descer, é mole: todo santo ajuda.
Ilustração: www.gostodeler.com.br
Texto excelente, penso exatamente assim
ResponderExcluirElogios são ótimos. De um estandarte de ouro, então, são melhores ainda. Valeu!
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