domingo, 16 de setembro de 2012

Peixe ou Pizza


Nossa história se passa nos dias atuais. Uma conversa simples, entre pai e filho. Um diálogo fictício, mas que pode ter acontecido em algum lugar, com alguma família brasileira. Seria natural. Um pai, divorciado, com seus 40 anos. Um filho, curioso, de 11.

-- Pai!

-- Sim, filhão.

-- O que é política?

-- Nossa, que pergunta! Por que você quer saber?

-- Porque eu tenho ouvido muito essa palavra, pra lá e pra cá, e nunca entendo o que quer dizer.

-- É assunto pra gente mais velha. Tem a ver com governo, direitos, deveres, enfim, essas coisas complicadas demais.

-- Você gosta de política, pai?

-- Eu? Claro que não. É muito chato e não leva a lugar nenhum. Tudo ladrão.

-- Viu?! Primeiro você fala que política é uma coisa. Agora vem falar que é coisa de ladrão. Tudo é política?

-- Não, não. É que está tudo ligado mesmo. As pessoas se candidatam para assumir o governo, reduzir nossos direitos, aumentar nossos deveres e roubar de todo mundo.

-- Ah, ta. Acho que entendi. Mas, pai, se influencia tanto na nossa vida, por que você não se interessa?

-- Porque tem coisa que é melhor nem ver. Muita sujeira.

-- A professora falou que é muito importante a gente saber sobre política. Ela disse que devemos ter um voto consciente.

-- Vocês são novos demais pra falar disso.

-- Eu queria saber mais o que é voto consciente.

-- Não importa muito. Esse negócio de governo é coisa pra alimentar pessoas que não têm o que fazer. O que importa é trabalhar, ganhar seu dinheiro e ponto.

-- E quem não tem trabalho, pai? O marido da dona Zezé não trabalha. Ela disse que está desempregado.

-- Um vagabundo, isso sim.

-- Ela disse que ele não estudou em nenhuma escola. Estranho né?

-- Viu só, filhão? O negócio é estudar, trabalhar e não ter do que reclamar depois olhando pro teto às custas do salário de doméstica da esposa.

-- Eu estudo, pai. Pode deixar.

-- Esse pessoal é muito folgado. Não estuda, não quer saber de nada e acha que vai se dar bem? Aí chega o governo e dá esmola. Esmola que nós pagamos!

-- A gente que paga pro marido da dona Zezé?

-- Como se fosse. Essa gente não quer saber de nada. Eles não querem aprender a usar o anzol, pescar e cozinhar. Eles querem o peixe prontinho. Assim é fácil.

-- Peixe?! Não entendi.

-- É forma de falar. Deixa pra lá. Perco a paciência só de pensar nisso.

-- Pai, você falou em peixe e acabou me dando fome. Vamos almoçar?

-- Boa ideia. Vamos pedir uma pizza, porque hoje é domingo, e a dona Zezé não vem.

-- Ainda vai pedir? Demora muito. Por que você mesmo não faz algo?

-- Porque eu não sei cozinhar.

-- Por que você não aprende?

-- Porque não tem quem me ensine hoje, e você está com fome. Não vai dar tempo de aprender nada agora. Deixa pra outro dia.

-- Está bem, pai. Pena que vamos pedir pizza. Se fosse peixe, a gente pedia pro governo.



Um comentário:

  1. Muito bom!
    Acho que a nossa geração tem uma oportunidade muito boa de acabar com a alienação política

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