Aquilo
ali era uma paixão na vida dele. O rapaz sabia disso. Não
há nada mais hipnotizante e belo do que uma disputa esportiva leal e equilibrada
em alto nível. Esporte é pura técnica. Pura emoção, no limite da alma. Alma
vencedora, de quem, naquele instante, assiste à competição mais importante de
todas: as Olimpíadas.
Um amante incondicional de esportes, aqueles 15 dias eram um sonho
para o rapaz. Esporte, esporte, esporte. De dia, de manhã, de noite. Que doces
momentos lhe proporcionavam. Que perturbadores momentos. O céu e o inferno, em
milésimos de segundo. Fascinante. Mortal. Uma coerência das mais incoerentes.
Das mais apaixonantes. Das mais incendiárias.
A disputa, em si, o jogo jogado, era puro entretenimento, na sua
visão. Diversão mesmo. Mas, então, o que tornava aquilo tudo tão intenso? Qual
era a linha a ser atravessada entre a diversão pura e simples para um momento
de puro sentimento? O que fazia com que a chama do esporte se acendesse de
maneira tão feroz em seu coração? Ele sempre se perguntou, sem saber ao certo a
resposta.
Suar frio, ferver o sangue nas veias e berrar. Isso nós chamamos
de torcer. Ele também chamava. E começou a entender mais ainda o que era isso
naquele dia, que parecia como outro qualquer. Mas não era. A tocha estava
acesa.
Parou para torcer. No meio da rua mesmo, numa televisão ao longe
de um bar de calçada. As meninas do vôlei estavam jogando. Ali ficou. Não se
arrependeu. Nem ele nem a multidão de pessoas que se juntaram numa só vibração.
Uma energia. Estava focado e concentrado. Todos estavam. Era o espírito
olímpico emanando? Provavelmente. Aquela não era hora para pensar. Era hora de
jogar junto. Transpirar junto.
O alívio e, depois, o êxtase enfim chegaram. Após uma disputa palmo
a palmo, insana e lindíssima, decidida no detalhe do filete, a felicidade tomou
lugar da tensão. Explosão de orgulho por todos os lados. O tremor das mãos se
transformou imediatamente em vontade de ir ao banheiro, para despejar todo
aquele líquido absorvido após tanta intensidade.
Isso é torcer, agora ele tinha certeza, mais do que nunca. Estava
desvendado. Era se encontrar num estado diferente. Metafísico. Fisicamente
desgastante, psicologicamente revigorante. Ah, a coerente incoerência do
esporte...
Claro que nem tudo é perfeito. Vendo a alegria alheia de uma
vontade comum, um senhor, do alto da sua sabedoria, pergunta: “estão comemorando
por que, se não vão ganhar nada com isso?!”. Coitado. Não energizou nem uma centelha
de faísca. Nada. Não desfrutou do manjar que os deuses do Olimpo desceram para
oferecer.
Que dó.
Mal sabia aquele senhor que o nosso rapaz acabara de ganhar o
mundo.
E o mundo acabara de ganhar um espetáculo para sempre em sua
memória.
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