terça-feira, 7 de agosto de 2012

Tocha no Peito


Aquilo ali era uma paixão na vida dele. O rapaz sabia disso. Não há nada mais hipnotizante e belo do que uma disputa esportiva leal e equilibrada em alto nível. Esporte é pura técnica. Pura emoção, no limite da alma. Alma vencedora, de quem, naquele instante, assiste à competição mais importante de todas: as Olimpíadas.

Um amante incondicional de esportes, aqueles 15 dias eram um sonho para o rapaz. Esporte, esporte, esporte. De dia, de manhã, de noite. Que doces momentos lhe proporcionavam. Que perturbadores momentos. O céu e o inferno, em milésimos de segundo. Fascinante. Mortal. Uma coerência das mais incoerentes. Das mais apaixonantes. Das mais incendiárias.

A disputa, em si, o jogo jogado, era puro entretenimento, na sua visão. Diversão mesmo. Mas, então, o que tornava aquilo tudo tão intenso? Qual era a linha a ser atravessada entre a diversão pura e simples para um momento de puro sentimento? O que fazia com que a chama do esporte se acendesse de maneira tão feroz em seu coração? Ele sempre se perguntou, sem saber ao certo a resposta.

Suar frio, ferver o sangue nas veias e berrar. Isso nós chamamos de torcer. Ele também chamava. E começou a entender mais ainda o que era isso naquele dia, que parecia como outro qualquer. Mas não era. A tocha estava acesa.

Parou para torcer. No meio da rua mesmo, numa televisão ao longe de um bar de calçada. As meninas do vôlei estavam jogando. Ali ficou. Não se arrependeu. Nem ele nem a multidão de pessoas que se juntaram numa só vibração. Uma energia. Estava focado e concentrado. Todos estavam. Era o espírito olímpico emanando? Provavelmente. Aquela não era hora para pensar. Era hora de jogar junto. Transpirar junto.

O alívio e, depois, o êxtase enfim chegaram. Após uma disputa palmo a palmo, insana e lindíssima, decidida no detalhe do filete, a felicidade tomou lugar da tensão. Explosão de orgulho por todos os lados. O tremor das mãos se transformou imediatamente em vontade de ir ao banheiro, para despejar todo aquele líquido absorvido após tanta intensidade.

Isso é torcer, agora ele tinha certeza, mais do que nunca. Estava desvendado. Era se encontrar num estado diferente. Metafísico. Fisicamente desgastante, psicologicamente revigorante. Ah, a coerente incoerência do esporte...

Claro que nem tudo é perfeito. Vendo a alegria alheia de uma vontade comum, um senhor, do alto da sua sabedoria, pergunta: “estão comemorando por que, se não vão ganhar nada com isso?!”. Coitado. Não energizou nem uma centelha de faísca. Nada. Não desfrutou do manjar que os deuses do Olimpo desceram para oferecer.

Que dó.

Mal sabia aquele senhor que o nosso rapaz acabara de ganhar o mundo.

E o mundo acabara de ganhar um espetáculo para sempre em sua memória. 

                                    

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