domingo, 16 de junho de 2013

Muito Prazer

Brasil era um menino quieto. Vivia na dele, desde que nasceu. Nunca incomodou ninguém. Brigava de vez em quando com alguns vizinhos, mas nada grave. Coisa de criança. Porradaria, daquelas brabas, não era coisa do Brasil.

Mesmo porque, o rapaz era extremamente talentoso. Com arte na veia, cheio de vida, desenvolto e inteligente. Só que era praticamente mantido numa redoma moral. Uma redoma cheia de limites impostos pelos seus rígidos pais, que não deixavam o menino criar asas sozinho. Pelo contrário, só exploravam o rapaz.

Brasil teve que trabalhar desde cedo, ralando, trazendo o sustento pra casa, enquanto seus pais apenas administravam o dinheiro do trabalho imposto, gastando a seu bel prazer. Ao pobre Brasil, nada, apenas uma mesada que mal dava para comprar uma garrafa de vinagre. “Você é jovem, rapaz. Cheio de energia, tem que trabalhar mesmo!”, bradavam. E Brasil trabalhava, trabalhava, trabalhava. Estava começando a ficar cansado com a situação.

Até o dia em que, de repente, os pais de Brasil cortaram vinte centavos de sua mesada, com justificativa “no preço do arroz, que aumentou”. O trabalho do rapaz, que já pouco rendia, renderia ainda menos. Foi a gota d’água.

O menino virou homem. Levou um choque de realidade. Passou a pensar. Começou a incomodar. Os seus pais foram os primeiros a perceber a mudança. Logo deixaram o filho de castigo. Mas ele precisava sustentar a casa, então não deu muito certo. Tentaram, então, partir para a agressão. Tinham que deixar marcas, para o moleque (para eles será sempre um moleque) aprender.

E ele aprendeu.

Aprendeu a pensar.

Aprendeu a agir.

Aprendeu a se olhar no espelho.

Aprendeu a se amar.

Hoje, o menino Brasil passa por um processo de afirmação. De autoconhecimento. Está virando um homem de verdade, maduro, reflexivo, engajado e proativo. Aquele, que não incomodava ninguém, parece não existir mais.

Os seus pais lamentam, fingem que ignoram a mudança, tentam de tudo para acabar com essa “rebeldia sem causa”.

Mas eles perderam essa.

Agora só lhes resta se perguntar, incrédulos, finalmente após tantos anos: “que menino é esse?”.

É a força do Brasil.

Prazer em conhecê-lo.


                                                      Imagem: www.gentedeopiniao.com.br

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