Brasil
era um menino quieto. Vivia na dele, desde que nasceu. Nunca incomodou ninguém.
Brigava de vez em quando com alguns vizinhos, mas nada grave. Coisa de criança.
Porradaria, daquelas brabas, não era coisa do Brasil.
Mesmo
porque, o rapaz era extremamente talentoso. Com arte na veia, cheio de vida,
desenvolto e inteligente. Só que era praticamente mantido numa redoma moral.
Uma redoma cheia de limites impostos pelos seus rígidos pais, que não deixavam
o menino criar asas sozinho. Pelo contrário, só exploravam o rapaz.
Brasil
teve que trabalhar desde cedo, ralando, trazendo o sustento pra casa, enquanto
seus pais apenas administravam o dinheiro do trabalho imposto, gastando a seu
bel prazer. Ao pobre Brasil, nada, apenas uma mesada que mal dava para comprar
uma garrafa de vinagre. “Você é jovem, rapaz. Cheio de energia, tem que
trabalhar mesmo!”, bradavam. E Brasil trabalhava, trabalhava, trabalhava.
Estava começando a ficar cansado com a situação.
Até
o dia em que, de repente, os pais de Brasil cortaram vinte centavos de sua
mesada, com justificativa “no preço do arroz, que aumentou”. O trabalho do
rapaz, que já pouco rendia, renderia ainda menos. Foi a gota d’água.
O
menino virou homem. Levou um choque de realidade. Passou a pensar. Começou a
incomodar. Os seus pais foram os primeiros a perceber a mudança. Logo deixaram
o filho de castigo. Mas ele precisava sustentar a casa, então não deu muito
certo. Tentaram, então, partir para a agressão. Tinham que deixar marcas, para o
moleque (para eles será sempre um moleque) aprender.
E
ele aprendeu.
Aprendeu
a pensar.
Aprendeu
a agir.
Aprendeu
a se olhar no espelho.
Aprendeu
a se amar.
Hoje,
o menino Brasil passa por um processo de afirmação. De autoconhecimento. Está
virando um homem de verdade, maduro, reflexivo, engajado e proativo. Aquele,
que não incomodava ninguém, parece não existir mais.
Os
seus pais lamentam, fingem que ignoram a mudança, tentam de tudo para acabar
com essa “rebeldia sem causa”.
Mas
eles perderam essa.
Agora
só lhes resta se perguntar, incrédulos, finalmente após tantos anos: “que
menino é esse?”.
É a
força do Brasil.
Prazer
em conhecê-lo.
Imagem: www.gentedeopiniao.com.br
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