— Está rindo de quê, mulher?
— De você, minha irmã. Não
posso?
— Não. Que graça tem nisso?
— Toda. Estou quase me mijando
nas calças.
— Eu podia ter morrido,
sabia?
— É mesmo? Como?
— Batendo a cabeça,
enrolando a língua, sei lá.
— Você tá maluca?
— É sério. Podia ter pego
uma infecção também. Infecção é um perigo. Ou concussão cerebral, que está na
moda.
— Vou repetir a pergunta: você
está maluca?
— Se eu tivesse batido com a
cabeça, poderia estar. É uma hipótese também.
— Quanto mais você fala,
mais eu acho tudo isso engraçado.
— Quer dizer que eu podia
estar morta agora ou então num hospital, até mesmo numa camisa de força, e você
só tem risadas a oferecer?
— Por enquanto, sim. Foi só
um escorregão, para de besteira. Caiu de bunda, eu ri e acabou.
— Bom saber a irmã que eu
tenho. Quando for a sua vez, vou fazer o mesmo então.
— Duvido.
— Duvida, é?
— Sim, duvido. Você é neurótica,
vai sair ligando pro 190 e pro Papa, por garantia...
— Muito engraçadinha. Não
leva nada a sério, né? Ri de tudo, parece uma hiena. Nunca vi.
— Obrigada pelo elogio.
— Não foi um elogio, pensei
até que você fosse me matar.
— Aí, tá vendo? Tudo é morte
para você!
— Nem tudo, chocolate é
vida.
— Pelo menos, isso.
— Se bem que pode causar câncer.
— Desisto.
— De quê? De mim? É verdade,
oras. Tudo causa câncer hoje em dia, não tenho culpa.
— Ok, você venceu. Eu não
vou rir disso.
— Por que não? Está passando
mal? Quer que eu chame um médico?
— Passando mal só porque eu
não ri de um papo sobre câncer? Eu tenho limites, vai. Você que é um caso
perdido.
— Para de falar assim de
mim, irmã.
— Você que tem que parar de
ser tão paranoica.
— Está bem. Vou tentar. Você
venceu.
— Pfff...Rá!
— O que é que foi esse som?
Sentiu alguma dor no peito?
— Nada, estou só rindo de
novo. Mais uma vez, as cortinas se fecharam, e você nem reparou.
— Droga, vou morrer
asfixiada aqui dentro!
— Sim, vai. Até o primeiro
ato de amanhã, e tudo volta ao normal.
— Que não seja o nosso
último ato!
— Claro que não. Nunca é.
— Espero mesmo. Boa noite,
Comédia.
O título é ótimo!
ResponderExcluirA leitura é leve e prazerosa!
Boa Rodrigo
Valeu, Xande. Obrigado mesmo pelo prestígio.
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