segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sem Drama

— Está rindo de quê, mulher?

— De você, minha irmã. Não posso?

— Não. Que graça tem nisso?

— Toda. Estou quase me mijando nas calças.

— Eu podia ter morrido, sabia?

— É mesmo? Como?

— Batendo a cabeça, enrolando a língua, sei lá.

— Você tá maluca?

— É sério. Podia ter pego uma infecção também. Infecção é um perigo. Ou concussão cerebral, que está na moda.

— Vou repetir a pergunta: você está maluca?

— Se eu tivesse batido com a cabeça, poderia estar. É uma hipótese também.

— Quanto mais você fala, mais eu acho tudo isso engraçado.

— Quer dizer que eu podia estar morta agora ou então num hospital, até mesmo numa camisa de força, e você só tem risadas a oferecer?

— Por enquanto, sim. Foi só um escorregão, para de besteira. Caiu de bunda, eu ri e acabou.

— Bom saber a irmã que eu tenho. Quando for a sua vez, vou fazer o mesmo então.

— Duvido.

— Duvida, é?

— Sim, duvido. Você é neurótica, vai sair ligando pro 190 e pro Papa, por garantia...

— Muito engraçadinha. Não leva nada a sério, né? Ri de tudo, parece uma hiena. Nunca vi.

— Obrigada pelo elogio.

— Não foi um elogio, pensei até que você fosse me matar.

— Aí, tá vendo? Tudo é morte para você!

— Nem tudo, chocolate é vida.

— Pelo menos, isso.

— Se bem que pode causar câncer.

— Desisto.

— De quê? De mim? É verdade, oras. Tudo causa câncer hoje em dia, não tenho culpa.

— Ok, você venceu. Eu não vou rir disso.

— Por que não? Está passando mal? Quer que eu chame um médico?

— Passando mal só porque eu não ri de um papo sobre câncer? Eu tenho limites, vai. Você que é um caso perdido.

— Para de falar assim de mim, irmã.

— Você que tem que parar de ser tão paranoica.

— Está bem. Vou tentar. Você venceu.

— Pfff...Rá!

— O que é que foi esse som? Sentiu alguma dor no peito?

— Nada, estou só rindo de novo. Mais uma vez, as cortinas se fecharam, e você nem reparou.

— Droga, vou morrer asfixiada aqui dentro!

— Sim, vai. Até o primeiro ato de amanhã, e tudo volta ao normal.

— Que não seja o nosso último ato!

— Claro que não. Nunca é.

— Espero mesmo. Boa noite, Comédia.

— Boa noite, Tragédia. Até amanhã.



2 comentários:

  1. O título é ótimo!
    A leitura é leve e prazerosa!
    Boa Rodrigo

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